Neste contexto abordarei o desenvolvimento e a transformação do papel da educação em Portugal, os ajustes e mudanças operadas no sentido de dar resposta às solicitações com que se debatem as sociedades industrializadas em transmutação para as agora denominadas sociedades do conhecimento. A educação é a base de todo o desenvolvimento económico, cultural, tecnológico e social das actuais sociedades. Será assim importante percebermos até que ponto, poderá ser a escola, um veículo reprodutor das desigualdades sociais e estas por sua vez causadoras do insucesso e abandono escolar, obstando assim a uma real evolução positiva, no sentido de maior equidade, igualdade e justiça social, no acesso aos bens educacionais e culturais, que promovem o pleno desenvolvimento do homem e favorecem a inclusão e a prosperidade.
“A sociedade pós-tradicional é um ponto final; mas é também um início, um universo social de acção e experiência verdadeiramente novo. Que tipo de ordem social ela é ou pode tornar-se?”(BECK, GIDDENS E LASH, 2001, p. 130)
A recente teoria social formulou uma definição mais precisa do termo “globalização” do que as definições normalmente propostas e conhecidas. A maioria dos cientistas sociais contemporâneos sugere que a globalização diz respeito a mudanças cruciais no espaço e no tempo com contornos de existência social, segundo as quais o significado de espaço ou território sofre mudanças profundas, assim como a estrutura temporal, em virtude da aceleração da actividade humana. A distância geográfica é normalmente medida em tempo. À medida que o tempo necessário para se ligarem diversos pontos geográficos é reduzido, a distância (ou espaço) sofre uma compressão. ( in: Stanford Encyclopedia of Philosophy, tradução de V. Simões)
Segundo Giddens, “uma sociedade é um sistema de interacções que envolve os indivíduos colectivamente”(…) aínda segundo o autor, a cultura é inseparável e está intimamente interligada à sociedade, ou seja, as culturas não podem existir sem sociedades e as sociedades não podem existir sem cultura. No actual contexto de globalização as nossas vidas foram inevitavelmente alteradas por acção das forças globalizantes (…) a natureza das nossas experiências quotidianas mudaram radicalmente. As sociedades em que vivemos, são objecto de grandes transformações, tornando-se obsoletas as instituições que antes as sustentavam. (…) De tal forma que temos de reequacionar as nossas próprias vivências, tanto no plano pessoal e íntimo, como na sociedade em geral. Este processo implica a transformação, não só dos sistemas mundiais, mas também da vida quotidiana, o modo como nos vemos a nós próprios e como nos relacionamos com os outros. O conhecimento, o saber e a ciência adquirem um papel mais relevante e de destaque que outrora. Hoje a informação e o conhecimento, por via da grande ampliação dos espaços de aprendizagem, para além das vias tradicionais, da escola, da comunicação social, do livro, está patente e chega-nos apartir dos locais de trabalho, da televisão ou via internet.
A sociedade actual é caracterizada por múltiplas denominações, como a sociedade em rede, a revolução semiótica, sociedade pós-moderna, sociedade da aprendizagem, sociedade da informação, sociedade do conhecimento e muitíssimas outras adjectivações, mas o importante é que, qualquer que seja a denominação, a sua característica diferenciadora como atrás foi mencionado é a compressão do tempo e do espaço, a qual viabiliza o rápido avanço da globalização económica, para isto contribuiem significativamente, as tecnologias da informação e da comunicação - TIC.
No entanto o processo em si potencializa cada vez mais a separação entre os que têm acesso aos bens produzidos pelo modelo sócio-económico, daqueles que estão à margem deste processo. As influências directas do processo de globalização da sociedade, contribuem assim para uma assimetria da sociedade, na medida em que se alteram os valores de referência, os papeis profissionais, as estruturas sociais e económicas, não sendo todas estas mudanças acompanhadas e integradas de forma igualitária, relativamente ao espaço e ao tempo, em todas as regiões e países, originando níveis de desenvolvimento diferenciados e excludentes.
1.2 As transformações sociais e o papel da educação
A Sociedade de Informação deixou de ser uma referência apenas presente nos livros, e passou a ser uma realidade que exige um contínuo reforço e actualização de conhecimentos por parte de todos. A educação deixou de se centrar num período de tempo restrito da vida de um indivíduo e passou a ser encarada como uma construção contínua da pessoa, abrangendo as suas várias vertentes.
Segundo Schumacher, através da História poderemos constactar que desde os primórdios da humanidade, os homens foram criando alguma forma de cultura. Civilizações que floresceram, tiveram o seu apogeu e entraram em decadência, poderiamos ser levados a pensar que por falta de alguns recursos, mas na mesma terra outras Civilizações despontaram e se ergueram, o que seria incompreensível se os recursos materiais houvessem falhado anteriormente, como poderiam ter-se reconstituido novamente tais recursos?
“Toda a história - assim como toda a experiência actual - aponta para o facto de ser o homem, e não a natureza, quem proporciona o primeiro recurso: o factor-chave de todo o desenvolvimento económico brota da mente humana. Subitamente, ocorre um surto de ousadia, iniciativa, invenção, actividade construtiva, não num campo apenas, mas em muitos campos simultaneamente. Talvez ninguém seja capaz de dizer de onde isso surgiu, em primeiro lugar, mas podemos ver como se conserva e até se fortalece: graças a vários tipos de escolas, por outras palavras, pela educação. Numa acepção bastante real, por conseguinte, podemos afirmar que a educação é o mais vital de todos os recursos." ( Schumacher, 1983 p. 67 ).
Actualmente tem-se hoje a noção de que é essencial o papel da educação, entende-se a educação como “definidora da competitividade entre as nações” e por se constituir como condição que permite a empregabilidade em períodos de crise económica, no entanto esta prespectiva liberal, encerra em si a hipocrisia das políticas neoliberais, que assumem o facto de que nem todos conseguirão “vencer”, importa então difundir a ideologia da competição e valorizar os poucos que conseguem adaptar-se e ultrapassar à lógica excludente, o que é considerado um “incentivo à livre iniciativa e ao desenvolvimento da criatividade”. Como afirma André Gorz, para a reprodução da hierarquia nas relações sociais a “ produção de perdedores” é tão importante quanto a promoção de diplomados. Já no senso comum, encontramos preceitos que enformam e mostram que o proprio povo está impregnado pela ideologia neoliberal, “ nem todos podem ser doutores”. O Fracasso não será assinalado pela parte do sistema de ensino, mas pela propria incapacidade pessoal e social do indivíduo. Da mesma forma trata-se de convencer os “vencedores” de que constituem uma elite, e que o sucesso foi devido a muito esforço, muita preserverança e vontade de “vencer”. A elite social, justifica-se assim, a si mesma, como classe priveligiada e superior à classe trabalhadora.
A racionalidade subjacente às políticas educacionais difundidas pelo neoliberalismo e decorrentes deste processo de globalização é a racionalidade empresarial. Os valores que apregoa são a eficiência como meio para a competitividade a produtividade e o lucro. (Santos, Robinson e Andriolli, Antônio Inácio. cit. André Gorz.) De acordo com Almeida, “as instituições de ensino ocupam um lugar central e estratégico no funcionamento e desenvolvimento das sociedades contemporâneas.” ( Almeida 1994, p.118), Na grande maioria dos países está instituída a escolaridade obrigatória, prolongando-se desde o ensino básico ao secundário mediante o regime educativo de cada país, por sua vez, o ensino universitário tem vindo a massificar-se quer nos países mais desenvolvidos quer nos países menos industrializados.
Quanto ao ensino pós-universitário, cada vez mais são os actores sociais que recorrem a este tipo de formação, o mesmo acontece no âmbito da formação de adultos no sentido que “uma percentagem cada vez maior de população tende a reintegrar-se periodicamente em sistemas educativos ou de formação, de modo a aumentar, completar ou actualizar as suas qualificações.” (Guerreiro, 2007, p.56)
Continua próximo post
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