segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Nós não podemos nos dispersar
É necessário "indignar-se contra a violência, a pobreza,a miséria,a falta de solidariedade,a manipulação dos meios de comunicação e informação..."
É necessário "defender a utilização de todos os meios necessários e éticos que estiverem ao alcance para se evitar que milhões de seres humanos sofram e morram por questões que poderiam ser tão simples de serem resolvidas..."
Precisamos começar a construir um outro mundo possível.
imagem- net
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sábado, 28 de novembro de 2009
terça-feira, 10 de novembro de 2009
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Repressão Sexual e Trabalho em Herbert Marcuse " Eros e Civilização"
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Recensão da obra de Herbert Marcuse, "O Homem Unidimensional" ( III )
João Valente Aguiar
Recensão da obra One-dimensional man de Herbert Marcuse: MARCUSE, Herbert (2002 [1964]) – One-dimensional man. London: Routledge. ISBN 0-415-28977-7. p.3-86
III Capítulo
Referências bibliográficas
AMIN, Samir (1999) – O eurocentrismo: crítica de uma ideologia. Lisboa: Edições Dinossauro. ISBN 972-8165-18-8
ANTUNES, Ricardo (2003) – Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 6ª reimpressão. São Paulo: Boitempo. ISBN 85-85934-43-3
BENJAMIN, Walter (1992) – A obra de arte na era da sua reproductibilidade técnica. In BENJAMIN, Walter – Sobre arte, técnica, linguagem e política. Lisboa: Relógio d’Água. p.71-113. ISBN 972-708-177-0
BOURDIEU, Pierre (2001) – Razões Práticas : sobre a teoria da acção. 2ªed. Oeiras: Celta. ISBN 972-774-103-7
BUKHARINE, Nicolai (1974) – Teoria Economica del Periodo de Transicion. Cordoba: Cuadernos de Pasado y Presente
CASTELLS, Manuel (2004) – Discurso de abertura do programa de doutoramento em Sociologia na Universidade Aberta da Catalunha. (fonte provinda das aulas de Sociologia Geral II)
CEVASCO, Maria Elisa (2001) – Para ler Raymond Williams. São Paulo: Paz e Terra. ISBN 85-21903-87-1
FREDERICO, Celso (1997) – Lukacs, um clássico do século XX. São Paulo, Moderna. ISBN 85-16020-61-4
KAFKA, Franz (2001) – A metamorfose. 4ª ed. Lisboa: Editorial Presença. ISBN 972-23-1652-4
LENINE, Vladimir (1978) – Sobre a dualidade de poderes. In LENINE, Vladimir – Obras escolhidas em três tomos: tomo II. Lisboa: Edições Avante. p.17-19
MARCUSE, Herbert (1969) – Razão e revolução. Rio de Janeiro: Saga
MARCUSE, Herbert (2002) – One-dimensional man. London: Routledge. ISBN 0-415-28977-7.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich (1975) – Manifesto Comunista. Lisboa: Edições Avante
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich (1983) – A ideologia alemã. In MARX, Karl; ENGELS, Friedrich – Obras escolhidas de Marx e Engels: tomo I. Lisboa e Moscovo: Edições Avante e Edições Progresso. p.4-75
MARX, Karl (1990) – O Capital, Livro Primeiro, Tomo I. Lisboa: Edições Avante
MARX, Karl (1994) – Manuscritos económico-filosóficos de 1844. Lisboa: Edições Avante. ISBN 972-550-226-4
MATTICK, Paul (1972) – One dimentional man in class society. Marxists Internet Archive. [Em linha]. [Consult. 23 Out. 2004]. Disponível na WWW:
MOURA, José Barata (1997) – Materialismo e subjectividade: estudos em torno de Marx. Lisboa: Edições Avante. ISBN 972-550-264-7
POULANTZAS, Nicos (1978) – Political power and social classes. London: Verso. ISBN 86091-705-3
ROSTOW, Walter Whitman (1963) – Les étapes de la croissance économique. Paris: Éditions du Seuil. ISBN 2-02-000591-3
THOMAS, Tom (2003) – O Estado e o Capital: o exemplo francês. Lisboa: Edições Dinossauro. ISBN 972-8165-36-6
Notas:
[1] Que também podemos considerar como uma introdução do livro e da matriz teórica subjacente à redacção desta obra.
[2] Atente-se no enfatizar contínuo da homogeneização dos consumos. Desde o mesmo programa de televisão ao mesmo local de férias, toda uma série de práticas sociais são consideradas como a-classistas. Ora, Bourdieu demonstrou que isto não se passa exactamente assim: «a cada classe de posições [no espaço social composto pela combinação de capital económico e cultural] corresponde uma classe de habitus (ou de gostos) produzidos pelos condicionamentos sociais associados à condição correspondente e, por intermédio destes habitus e das suas capacidades generativas, um conjunto sistemático de bens e de propriedades, unidos entre si por uma afinidade de estilo» (Bourdieu, 2001, p.9). Sintetizando, pode-se afirmar que a diferentes práticas e consumos culturais pelas várias classes e fracções de classe, corresponde uma matriz simbólica que recobre e dá um carácter de unidade às acções dos agentes sociais: a ideologia dominante numa dada formação social. No caso das sociedades capitalistas, encontramos o individualismo como a forma mais acabada de dominação ideológica.
[3] Castells, quarenta anos mais tarde, vai defender – especificando estas teses numa tecnologia própria – que a Internet «(...) é o meio de comunicação que constitui a forma organizativa das novas sociedades (...)» (Castells, 2004).
[4] Não deixa de ser curioso verificar a desfocagem epistemológica do autor, em torno da centralidade do trabalho, para uma posterior recolocação do núcleo da sua análise na tecnologia. Elucidativo deste movimento é a seguinte afirmação retirada de “Razão e Revolução”: «(...) o processo de trabalho determina a totalidade da existência humana e, pois, constitui o modelo básico da sociedade» (Marcuse, 1969, p.268), em absoluta contradição com as teses da uni-dimensionalidade.
[5] Contudo, de um ponto de vista epistemológico, Herbert Marcuse rejeita o empirismo, derivado do pensamento uni-dimensional. A uni-dimensionalidade lógico-cognitiva presente na «(...) redução e no repelir do universo do discurso dos temas deste universo [das sociedades industriais]» (Marcuse, 2002, p.14) tem consequências nas próprias mentes dos intelectuais. Estes não se propõem fazer mais do que «representações de operações particulares no tratamento dos conceitos» (Marcuse, idem, ibidem), isto é, passam a conceber o fenómeno social como «(...) por si e em si, e a constituir na imediatez do seu aparecer empírico, a totalidade do próprio ser» (Moura, 1997, p. 77). Ressalta a ideia de que o indagar da complexidade e interpenetração da múltiplas linhas axiais de causalidade diferenciada é menorizada em relação a uma mera facticidade aparente de um registo observado momentaneamente. Resumindo, Marcuse, neste âmbito, trabalha bem a negação do empirismo e desenvolve conceitos tendentes a uma radicalidade social, apesar das insuficiências já apontadas.
[6] Marcuse critica correctamente, a conciliação e o reformismo dos Partidos Comunistas ocidentais à ordem vigente, quando afirma que «fortes Partidos [Comunistas] em França e Itália, tornaram-se testemunhas da tendência geral ao aderirem a um programa mínimo que abandona a perspectiva revolucionária do poder e se adequa às regras do jogo parlamentar» (Marcuse, idem, p.23), apesar de nunca oferecer um paradigma alternativo ao cortejo de exploração, exclusão e barbárie capitalistas, sintoma da sua incapacidade de romper cabal e completamente com a cortina de fumo da ideologia dominante.
[7] Autonomia que, diga-se em boa verdade, não é contemplada por Marcuse, na medida em que reduz todas as dimensões da sociedade a um epifenómeno da tecnologia, que surge como algo de transcendental às próprias relações sociais que, na base, estipulam os formatos de aplicação da tecnologia no real.
[8] Por colocar a primazia, de forma unilateral, no desenvolvimento das forças produtivas sobre as relações e interacções que os homens estabelecem entre si e com o meio ambiente, Marcuse acusa a teoria clássica marxista de congeminar que «(...) o proletariado destrói o aparato político do capitalismo, mas mantém o aparato tecnológico» (Marcuse, idem, p.24) inalterado. Esta apreciação que o próprio Max Weber enunciou na crítica ao materialismo histórico, é infirmada por um dos mais importantes pensadores (e dirigentes políticos) marxistas da primeira metade do século XX – Nicolai Bukharine – que condensa a visão marxiana no que toca à (falsa) neutralidade tecnológica, ao fazer notar a «(...) revolucionarização dos métodos técnicos, a modificação e a rápida melhoria da técnica social racionalizada» (Bukharine, 1974, p.43), numa sociedade socialista.
[9] O alto funcionário da administração de Lyndon Johnson, Walter Rostow não diria melhor, quando generaliza uma sequência de etapas definidas a priori e aplicáveis a todos os contextos sócio-económicos e que deveriam ser copiadas por todas as nações. Aqui prevalece a noção de um fixo modelo de desenvolvimento, assente na especialização produtiva (Rostow, 1963).
[10] Todavia não devemos esquecer as chacinas que alguns dos mais proeminentes e “democráticos” Estados-Providência realizaram no pós-guerra. Basta olhar, por exemplo, para a guerra que a França protagonizou na Argélia, nos anos 50, contra a independência daquele país africano, provocando mais de um milhão de mortos. Outras guerras poderiam ser mencionadas como a do Vietname (três milhões de mortos), ou o apoio que os EUA deram na implementação das ditaduras militares na América Latina (Argentina, Chile, Brasil).
[11] Os conselhos operários enquanto forma avançada de poder político e económico da classe proletária, têm a característica fundamental de a «(...) fonte de poder não estar numa lei previamente discutida e aprovada pelo parlamento, mas na iniciativa directa das massas populares partindo de baixo e à escala local, pelo poder imediato do próprio povo» (Lenine, 1978, p.18).
[12] Não podemos deixar de referir um episódio delicioso relativo à história deste quadro. Em 1940, quando os nazis conquistam Paris, uma patrulha, entre muitas outras, dirige-se ao atelier de Pablo Picasso. Chegados lá, um oficial interpela o pintor acerca de “Guernica”: «Foi você que fez isto?», ao que o artista espanhol retorquiu, com um notável sentido de humor e uma fina ironia: «Não! Foram vocês!».
[13] Um dos grandes dramaturgos do século XX, autor de obras como “O Círculo do Giz Caucasiano”, “Miséria e Esplendor do III Reich” ou “Mãe Coragem”, Brecht proponha um teatro esteticamente inovador e que, paralelamente, apela-se à racionalidade do espectador. Em Portugal autores como Luís de Sttau Monteiro, Bernardo Santareno ou Luiz Francisco Rebello, ou encenadores como Joaquim Benite (actual director do Festival Internacional de Almada) foram os mais destacados seguidores das propostas brechtianas.
Recensão da obra de Herbert Marcuse, "O Homem Unidimensional" ( II )
Recensão da obra One-dimensional man de Herbert Marcuse: MARCUSE, Herbert (2002 [1964]) – One-dimensional man. London: Routledge. ISBN 0-415-28977-7. p.3-86
II Capítulo
Recensão da obra de Herbert Marcuse, "O Homem Unidimensional" ( I )
Por: João Valente Aguiar
Recensão da obra One-dimensional man de Herbert Marcuse: MARCUSE, Herbert (2002 [1964]) – One-dimensional man. London: Routledge. ISBN 0-415-28977-7. p.3-86
I Capítulo
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Hippopotamus Herbert: Marcuse and Revolution in Paradise
sábado, 26 de setembro de 2009
Viver para o consumo
Obra do francês Jean Baudrillard, morto em 2007, critica o imperativo contemporâneo do consumir e das imagens que substituem a realidade. Obra do francês Jean Baudrillard, morto em 2007, critica o imperativo contemporâneo do consumir e das imagens que substituem a realidade.
POR MARCELO GALLI*
No dia 6 de março de 2007 morria aos 77 anos em Paris o filósofo e sociólogo francês Jean Baudrillard. Como ele, apesar de mais de uma dezena de livros e artigos e palestras em universidades no mundo todo terem feito o seu pensamento circular, tanto que até virou mote para um filme de Hollywood (Matrix), um olhar irônico sobre a sociedade e a força da crítica na formulação do pensamento filosófico se foram.
Contestador da afluente sociedade do consumo e dos objetos que fazem parte do seu universo exposto nas vitrines das lojas de departamento e shoppings centers das grandes cidades, Baudrillard também aponta sua pena para o mundo dos meios de comunicação de massa alimentado por imagens que não cessam de entrar e habitar o imaginário do homem nos tempos atuais.
Na visão da mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ondina Pena Pereira, a importância do pensamento de Jean Baudrillard é inestimável para aqueles que se recusam a embarcar de olhos vendados nas narrativas sedutoras da sociedade contemporânea.
"Somos (na obra dele) convidados a participar de um ponto de vista que torna irrisórios os argumentos em defesa da contemporaneidade: um mundo pragmático onde, sob o império da lógica econômica, da produção e da hegemonia dos códigos, cria-se um sistema capaz de neutralizar e tornar inútil toda a atividade crítica, inclusive a atividade crítica teórica", acrescenta.
OS PRIMEIROS PASSOS
Formado pela Sorbonne em língua alemã, ele lecionou a disciplina em diferentes escolas secundárias na França até 1966, além de traduzir para o francês, durante o período, textos de dramaturgos germânicos como Bertold Brecht e Peter Weiss. Em 1968, sob orientação do filósofo Henri Lefebvre, ele conclui a sua tese de mestrado "O sistema dos objetos", na qual problematiza o lugar que mesas, televisões, carros e bolsas, por exemplo, ocupam o cotidiano das pessoas.
Questiona Baudrillard no primeiro parágrafo da introdução do trabalho: "Poderemos classificar o luxuriante aumento do número de objetos como o fazemos com a fauna e flora, completo com espécies glaciais e tropicais, mutações inesperadas, e variações ameaçadas de extinção?" A resposta para a pergunta é sim, e o filósofo vai além. Para ele, quando alguém compra uma bolsa Louis Vuitton ou um tênis Adidas ou ainda uma televisão LG 48 polegadas com tela plana e um aparelho de DVD Blue Ray de última geração ou um aparente exclusivamente meio de locomoção (carro), na verdade leva para a casa ou deixa na garagem um símbolo. Isto é, expressa um estilo de vida, um modo de enxergar o mundo e diferenciar e distinguir e se afirmar uma pessoa da outra ou grupos de outras formações sociais, calibrando positivamente ou negativamente as escolhas.
Já parou para pensar o que representa um carro, além de te levar da casa ao trabalho ou para uma viagem pelo litoral? É o simbolismo do individualismo e espírito de liberdade defendidos pela modernidade, bem como um objeto que seduz, dá prazer, concede status, poder e desperta a ambição dos indivíduos. Tanto que o escritor italiano Luigi Pirandello (1867-1936) chegou a dizer que o fruto da engenhosidade da raça humana é na verdade criação do diabo. "Utilizando a sedução irresistível, o egoísmo e a ambição por status dos seres humanos, alcança o objetivo diabólico de gerar o caos nas cidades, o congestionamento das vias, a impossibilidade de estacionar, tudo seguido da paralisação da vida urbana", lembra o urbanista paulista Jorge Wilheim, em artigo na Folha de S. Paulo de 28 de julho deste ano, para comentar a situação do trânsito na maior cidade do Brasil.
Na visão do filósofo francês, o carro é onde é possível discernir com mais facilidade o conluio entre o nosso sistema subjetivo de necessidades e o sistema objetivo da produção. "O carro revela o objeto (...) a apresentação abstrata de qualquer finalidade no sentido de velocidade e prestígio, conotação formal, técnica conotação, diferenciação, catexia emocional, e projeção de fantasia", escreve. O homem se incorporando a uma máquina, o mito grego do Centauro atualizado e revisado.
SOCIEDADE
Durante algum tempo, Baudrillard se estabelece como docente da Universidade de Nanterre, local de onde emergiu importante movimento de contestação juvenil que desembocou no agitado Maio de 68 na França e no mundo, lecionando um curso sobre a disciplina. Permanece na instituição até 1986, quando se transfere para o Instituto de Pesquisa e da Informação Sócio-Econômica (IRIS), da Universidade de Paris-IX Dauphine.
Na sua obra seguinte, "Sociedade do Consumo: Mitos e Estruturas" , de 1970, o francês mergulha ainda mais fundo na dinâmica dos objetos no mundo contemporâneo e relaciona aqueles ao universo das compras: "É preciso deixar claro desde o início que o consumo é uma forma ativa de se relacionar (não só com objetos, bem como com a sociedade e o mundo), uma forma de atividade sistemática e resposta geral que sustenta nosso sistema cultural como um todo", revela. Ele vai mostrar na obra de que maneira as grandes empresas vão forjar irrepreensíveis desejos, criando novas hierarquias que substituem as tradicionais diferenças de classes. O ato de comprar, de ter coisas, transforma-se dessa maneira em um novo mito tribal, a moral dos tempos modernos, acrescenta.
Para ficar ainda no campo automotivo, o que Baudrillard quer dizer é o cerne da crônica descontraída dos cariocas irmãos Valle no disco "Mustang Cor de sangue, Corcel cor de mel", do final da década de 1960, quando o Brasil começa a entrar para valer na era do consumismo e da sociedade de massa: "a questão social, industrial, não quer que eu ande a pé, na vitrine um Mustang cor de sangue."
Dessa maneira, a informação é também uma mercadoria, ou ainda artífice de tendências de consumo ou "criadora" de modas. Os meios de comunicação também alimentam, assim, o sistema capitalista na sua essência mais profunda, isto é, de criar cada vez mais necessidades, para se elaborarem mais soluções e produtos, perpetuando a dinâmica dos meios de produção e fazendo o capital circular. E a indústria fonográfica, do cinema, em suma, do entretenimento, também fazem parte dessa máquina. Como escreveu Karl Marx no seu ensaio "Manuscritos econômico filosóficos", de 1884 - também conhecido como "Manuscritos de Paris", cidade na qual residia na época o filósofo alemão - no interior da propriedade privada: "Cada homem especula sobre como criar no outro uma nova carência, a fim de forçá-lo a um novo sacrifício, colocá-lo em nova sujeição e induzi-lo a um novo modo de fruição e, por isso, de ruína econômica."
MÍDIA
Sendo os meios de comunicação um dos pilares do sistema vigente, no caso o capitalismo, é de se esperar a difusão das suas ideias por meio dos seus veículos. E até o tempo livre e de lazer é travestido em momento de consumo. É a culpa de nada fazer versus o imperativo do consumo; e também tempo de não pensar e fugir do dia a dia.
Baudrillard também era fotógrafo. E, ironicamente, foi um ferrenho crítico da proliferação de imagens no mundo contemporâneo e sua influência no cotidiano dos sujeitos e de que maneira estes enxergam o mundo e a realidade, e desenvolveu a teoria sobre a simulação e simulacro em livro homônimo de 1981. Para ele, o fenômeno faz com que seja criada uma espécie de "hiper-realidade", que não é nem o objeto retratado nem tampouco a sua reprodução. "Atravessando um espaço cuja curvatura não é mais aquela do real, nem da verdade, a era da simulação é inaugurada pela liquidação de todos os referenciais", analisa.
Sendo o funcionamento da sociedade apoiada em um sistema desse tipo, a dominação torna-se mais fácil, mas que por sua vez opera por uma complexa lógica e que esconde tal condição, não distinguindo dominados e dominantes. Ondina explica que o que faz a distinção entre a dominação e a hegemonia é a falência da realidade: "A globalização, que na verdade nada mais é do que a hegemonia de uma potência mundial, só pode ocorrer nesse contexto do virtual e das redes", diz. Isso ocorre porque ela precisa simular uma homogeneidade, uma igualdade entre as culturas e entre os povos. "A simulação só acontece porque os signos estão esvaziados de sua substância", acrescenta.
PENSAMENTO INTENSO
Foi no começo dos anos 1990, momento em que o francês começa a escrever regularmente para importantes publicações da imprensa, principalmente francesas e anglosaxãs, que sua fama transpõe a fronteira acadêmica e ele se transforma em celebridade intelectual. Uma série de textos publicados no "Libération" e "The Guardian" entre janeiro e março de 1991, sobre a Guerra do Golfo, em que ele chega a negar a existência do conflito, contribuíram para que ele ganhasse ainda mais publicidade.
A guerra que se deu no Golfo Pérsico, porque o Iraque não acatou a resolução do Conselho de Segurança da Organizações das Nações Unidas (ONU) que exigia a retirada das tropas de Bagdad do Kwait, sendo invadido pelos Estados Unidos (com a ajuda de Reino Unido e outros países) logo em seguida, foi, para Baudrillard, ao menos se comparada com conflitos anteriores até então, não convencional, porque na verdade não foi travada homem a homem, mas sim, por parte dos ocidentais, através da tela do computador ou da televisão.
O conflito pela primeira vez na história recebeu cobertura televisiva 24 horas por dia e sete dias por semana pela CNN, que levava todos os dias aos lares cenas que remetiam a jogos de videogame e filmes de Hollywood, de alvo à distância sendo atingidos pelos armamentos ultramodernos, os chamados "ataques cirúrgicos" estadunidenses e britânicos. Nem um soldado morto no chão de batalha, ao menos do lado ocidental, o que, pelo efeito das imagens geradas, fez com que um evento sangrento e que matou milhares de iraquianos fosse considerado por alguns como "guerra limpa".
Um de seus últimos grandes debates foi originado mais tarde, quando dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, o filósofo provoca polêmica mais uma vez. Ele subverte a lógica de que o ataque às torres gêmeas em Nova Iorque tenha sido uma ação de resistência vinda de fora do mundo ocidental, no caso do Islã, como resposta aos desmandos das grandes potências contra países e povos cujo Deus é chamado de Allah e têm Maomé como profeta. Para ele, o incidente foi criado pelo próprio Estados Unidos, por esse motivo vai considerar que na verdade na manhã do dia célebre houve "o suicídio das torres gêmeas".
*Marcelo Galli é jornalista
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Olhos vendados
Para Ondina, o que Baudrillard fez, tendo em vista os efeitos gerados pelo universo virtual, não foi criticar, mas sim prever o que poderia acontecer quando do seu uso fosse massivo. Para o filósofo francês, sempre era possível reverter tais efeitos ao usar o instrumento de outra forma, politizando-o para realizar por meio dele um contraefeito ou um contraobjetivo.
"Sociedade do Consumo: Mitos e Estruturas"
"O corpo ajuda a vender. A beleza ajuda a vender. O erotismo promove igualmente o mercado. E não é este o menor dos motivos que, em última instância, orientam todo o processo histórico de 'libertação do corpo'. Com o corpo acontece a mesma coisa que com a força de trabalho. Importa que seja 'libertado e emancipado' de modo a ser racionalmente explorado para fins produtivistas. Assim como é necessário que atuem a livre determinação e o interesse pessoal - princípios formais da liberdade individual do trabalhador - para que a força de trabalho possa mudar-se em procura salarial e valor de troca, também é preciso que o indivíduo consiga redescobrir o próprio corpo..."
Meios de comunicação
Baudrillard criticava a mídia de massa e a realidade virtual criada no universo da internet. Porém, pode-se dizer que o veículo também criou novos mecanismos para os sujeitos se expressarem (muitas vezes criticamente), como ocorreu recentemente no caso das eleições do Irã, em que o site de microblogging serviu de arauto para descontentes de um pleito que reelegeu Mahmoud Ahmadinejad.
Resistência
No ano seguinte ao atentado, quando o terrorismo torna-se pauta principal da política interna e externa dos Estados Unidos, ele lança o ensaio "O Espírito do Terrorismo", em que analisa a reação aos ataques, que chegou a ser comemorado por ser uma resposta justa para anos de prepotência ianque, e defende que manifestações do tipo poderiam esconder um desejo coletivo pelo que aconteceu.
Fonte: Revista de Filosofia
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Uma sociologia para os tempos de crise - por Francisco de Oliveira
FRANCISCO DE OLIVEIRA é sociólogo e professor emérito da FFLCH-USP |
Neste belo livro, seus organizadores, Michael Burawoy e Ruy Braga, anunciam seus objetivos: o debate, a defesa e as proposições de uma Sociologia pública. Sem ambiguidades, sem cientificismos e surpreendente para os padrões de um debate acadêmico que quer também transcender os muros da academia, sem deixar de conceder espaço aos adversários da "Sociologia pública" e até mesmo dar-lhes razão em certos aspectos da crítica.
Os organizadores, que respondem pela totalidade dos artigos que compõem o livro - os últimos contam também com a colaboração de Sylvia Gemignani Garcia, Leonardo Mello e Silva e Marco Aurélio Santana -, são, eles mesmos, eminentes sociólogos públicos, na definição de Michael Burawoy, sociólogo norte-americano, professor na Universidade da Califórnia em Berkeley e tendo sido já presidente da prestigiosa e poderosa American Sociological Association, da qual é ainda membro. Afirma-se, assim, em primeiro lugar, como sociólogo profissional e transita com fluência e propriedade nos terrenos da Sociologia crítica, da Sociologia para as políticas públicas e, evidentemente, da Sociologia pública.
A Sociologia profissional norte-americana recebe as maiores doações financeiras para suas pesquisas
Nosso Ruy Braga é professor do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde se destaca por exercer com rigor seu métier profissional e projetar sua ciência para os diversos públicos, numa perspectiva crítica. Nenhum deles recusa, como ficará mais evidente na leitura dos capítulos do livro, a forte dimensão política da ciência da sociedade. Na verdade, os autores defendem a sociedade civil como objetivo e campo específico da Sociologia. Longe, portanto, de evitar toda a "contaminação" e, ao contrário, propondo a interlocução da Sociologia com os vários públicos.
Que significam os quatro campos da divisão do trabalho sociológico abordados na obra? O primeiro recebe o nome de "Sociologia profissional" e se dedica a pesquisar e a aprofundar os próprios teoremas da Sociologia, seus métodos, suas fontes de dados e seus modelos. O segundo, o da "Sociologia crítica", tem como objetivos interrogar os próprios fundamentos da teoria sociológica e colocá-los à prova, criticar suas bases e pressupostos, perguntarse para que e a quem serve a ciência da sociedade.
LIVRO: Por uma Sociologia pública AUTORES: Ruy Braga e Michael Burawoy EDITORA: Alameda Casa Editorial ANO: 2008 PÁGINAS: 283 PREÇO SUGERIDO: R$ 44,00 |
Parece óbvio e banal que serve à própria sociedade, mas o abandono da crítica pode levar essa primorosa ciência a cair na irrelevância na qual já mergulhou a economia, antigamente conhecida como "economia política", que a hegemonia norte-americana simplesmente passou a chamar de economics.
A "Sociologia pública" é o campo da interlocução da Sociologia com o público, os vários públicos, e é daí que ela recebe sua validação social, é aí que ela informa, discute, entra em contato, exerce um papel civilizatório. A "Sociologia para as políticas públicas" já se revela pelo nome: ela é uma ciência social aplicada às questões públicas, da saúde, da administração, da educação, da mídia, e também produz sob encomenda para clientes.
Essa divisão do trabalho é histórica e difere nacional e regionalmente. Hoje, o plaidoyer de uma Sociologia pública consiste em elaborar uma nova proposição teórico-prática para os tempos da globalização, pois há uma "Sociologia globalizada". São campos com fortes conexões e uma pode alimentar a outra: da Sociologia para as políticas públicas pode vir o requerimento de uma nova acuidade metodológica que lide com fenômenos cuja irrupção na sociedade esteja surpreendendo os velhos fundamentos clássicos: tal é o caso do feminismo, dos idosos, já tão numerosos - mesmo no Brasil -, que propõem novas políticas, dos homossexuais, dos novos direitos das crianças e dos adolescentes. Burawoy é especialmente atento a essa "divisão global" do trabalho sociológico.
Para ele, essa "globalização" é, sobretudo, de forte predomínio norte-americano e subsidiariamente europeia. Mesmo para o Brasil, cujas ciências humanas sempre foram fortemente influenciadas pela Europa Ocidental, o processo de "americanização" da Sociologia segue uma trajetória ascendente.
Mesmo para o Brasil, o processo de "americanização" da Sociologia segue uma trajetória ascendente
O diálogo com o marxismo é forte nessa Sociologia pública, e talvez mais forte ainda na Sociologia crítica, até porque o próprio Marx foi seu cultor ou fundador da crítica ao capitalismo. Há mesmo adversários que acusam a Sociologia pública e seus cultores de serem apenas "demagogos marxistas" ou populistas ávidos de aplausos. A ironia da história dessa polêmica, como salientam os autores, é que é a Sociologia profissional norte-americana quem recebe as maiores doações financeiras para as suas pesquisas.
Não se trata, desde logo, para Burawoy e Braga, de recusarem a Sociologia profissional, pois na ausência de uma base metodológica rigorosa, os outros campos não podem prosperar, e essa é a tarefa da Sociologia profissional; nem tampouco de praticar um antiamericanismo sociológico tolo, pois novos approachs metodológicos enredados vigorosamente em contextos nacionais e regionais podem produzir excelentes resultados, como bem nos mostra o caso de Portugal, com sua recente produção sociológica de qualidade mundial.
É, portanto, com coragem política e apurado profissionalismo que Burawoy e Braga nos oferecem este trabalho, fundamentado numa vasta bibliografia, sobretudo norte-americana, sendo realmente uma contribuição para nossa própria Sociologia.
Fonte: http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/24/uma-sociologia-para-os-tempos-de-crise-144483-1.asp
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