terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O objecto de estudo da sociologia foi determinado por Émile Durkheim em As Regras do Método Sociológico (1895)




Ler capítulo anterior:

Sociologia e perspectivação científica( capítulo II )



PRIMEIRAS LIÇÕES DE SOCIOLOGIA
por: Philippe Riutort

tradução de: Eduardo de Freitas
Nº de páginas 140
Ano de edição 1999
ISBN: 972-662-692-7
Editora Gradiva



2. O objecto de estudo da sociologia foi determinado por Émile Durkheim em As Regras do Método Sociológico (1895)
No seu difícil empreendimento de construção da sociologia como disciplina de corpo inteiro (durante muito tempo titular de uma cadeira de Ciências da Educação, não é, com efeito, senão em 1913 que ele obtém o título de professor de Sociologia e Ciências da Educação na Sorbonne), Durkheim dedica-se a conferir um objecto próprio à sociologia, que, segundo ele, se deve demarcar das outras disciplinas existentes, tais como a Psicologia, a História, a Economia ...


Para Durkheim, a singularidade da sociologia reside no estudo do facto social, irredutível, em virtude das suas características próprias, ao facto psicológico e que exige uma investigação específica. Ao escolher estudar o suicídio, Durkheim recusa assim globalmente as abordagens psicológicas e afirma que (contrariamente às aparências) este fenómeno constitui na verdade um facto social, isto é, o contexto social exerce uma influência mensurável através da análise das variações da taxa de suicídio. O suicídio preenche os critérios do facto social enunciados em As Regras do Método Sociológico: um facto social consiste, segundo Durkheim, «em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo dotadas de um poder de coerção por força da qual se impõem àquele». Dito de outra maneira, o facto social apresenta as características seguintes: trata-se de um fenómeno colectivo, anterior e exterior à consciência individual sobre a qual aquele exerce um constrangimento. Durkheim insiste em As Regras no facto de o indivíduo, enquanto ser social, interiorizar um conjunto de princípios que influenciam as suas acções sem que disso se dê necessariamente conta.


"Quando me entrego à minha tarefa de irmão, de cônjuge ou de cidadão, quando realizo os compromissos que contraí, cumpro os deveres que estão definidos, exteriores a mim e aos meus actos, no direito e nos costumes."

Se a sociologia tem por domínio o estudo dos factos sociais que devem ser apreendidos como «coisas», então o sociólogo deve aplicar-se a «explicar o social pelo social» e afastar assim todo o tipo de explicação «extra-social» que não é do seu foro. Em O Suicídio, Durkheim examina uma a uma as explicações de ordem psicopatológica que imputam o suicídio, nomeadamente, à loucura, às considerações assentes na hereditariedade, ao clima, à imitação, explicações que ele tem o cuidado de ir invalidando sucessivamente. Seguidamente, com o apoio das estatísticas, vem mostrar uma tipologia de suicídios pela qual distingue três tipos principais: o suicídio egoísta, o suicídio altruísta, o suicídio anómico e, em esboço, um quarto: o suicídio fatalista. Existe para Durkheim uma relação entre a taxa de suicídio verificada e o nível de integração e de regulação sociais.


• O suicídio egoísta é a manifestação de uma integração social demasiado fraca (quando a sociedade não exerce senão um fraco controlo sobre o indivíduo, aparece uma «indivualização desmesurada») e observa-se em diferentes domínios da vida social: a taxa de suicídio é, por exemplo, sensivelmente mais elevada nos protestantes do que nos católicos e mais alta nos católicos do que nos judeus. A ex-plicação reside, para Durkheim, no grau de individualismo próprio a cada religião: este é muito fraco nos judeus, onde o sentimento de pertença a uma comunidade é muito elevado, é mais considerável nos católicos, que conhecem não obstante uma integração social forte ligada à influência da Igreja, enquanto é entre os protestantes que o «livre arbítrio» está mais desenvolvido e o clero menos presente na vida social. Durkheim pode daí concluir que a religião preserva do suicídio, não porque o dogma religioso condene esse acto, mas porque ela participa na integração social dos indivíduos, inserindo-os num grupo, o que tem por efeito reforçar as suas relações sociais.

O suicídio altruísta caracteriza-se, ao invés do suicídio egoísta, por uma integração social demasiado forte. Como escreve Durkheim: «Quando o homem está desvinculado da sociedade, mata-se facilmente, e mata-se também quando está fortemente integrado nela». Este caso de suicídio é característico das sociedades primitivas onde o individualismo é muito fraco. Subsiste também como forma de sobrevivência nas sociedades modernas, como na sociedade militar (Durkheim nota que a taxa de suicídio é mais elevada nos militares do que nos civis), quando a pressão da hierarquia se impõe fortemente ao indivíduo.
• Durkheim define enfim o suicídio anómico (este tipo de suicídio é aquele ao qual ele concede mais importância), que corresponde a uma falta de regulação social e se opõe directamente ao suicídio altruísta relacionado com uma regulação social excessiva. O suicídio anómico representa assim a forma mais corrente de suicídio nas sociedades modernas. As desregulações sociais sobrevêm quando à sociedade se deparam mutações profundas: os indivíduos encontram-se por isso numa situação inédita, visto que as suas referências habituais já não são operantes, o que significa que os seus desejos já não são socialmente circunscritos (são ilimitados), enquanto os objectivos que lhes são oferecidos, vulgarmente definidos de modo claro, se tornam indeterminados. Durkheim observa sobre este assunto um facto que, à primeira vista, poderia parecer surpreendente: os suicídios progridem durante os períodos de transformações económicas, tanto nos momentos de crise como nos de forte crescimento. De facto, nestas situações de mudança social rápida, a influência moderadora da sociedade, que habitualmente modela os desejos dos indivíduos, afrouxa, enquanto as aspiraçõe tendem a aumentar bruscamente sem que possam necessariamente ser satisfeitas.
"Porque a prosperidade aumentou, os desejos estão exacerbados. A presa mais rica que lhes é oferecida estimula-os, torna-os mais exigentes, mais impacientes a respeito de qualquer regra, justamente quando as regras tradicionais perderam a sua autoridade."


Durkheim considera em consequência que o suicídio anómico é particularmente preocupante nas sociedades modernas, visto estar estreitamente ligado à falta de controlo que nelas a sociedade exerce sobre o indivíduo. Ele nota, a este propósito, que as funções industriais e comerciais, que são objecto de uma fraca regulamentação, são igualmente as mais tocadas pelo suicídio.
Durkheim demonstrou assim magistralmente no seu estudo, contrariando o «senso comum», para o qual o suicídio não pode resultar senão de uma decisão individual, que as lógicas sociais podem influenciar as variações das taxas de suicídio de uma população.


Admitindo-se, na sequência de Durkheim, que o suicídio constitui um facto social, pode-se então perguntar até onde o sociólogo deve prosseguir a sua pesquisa a fim de «cercar» a presença do social nos diversos comportamentos humanos. O «social», efectivamente, não tem limites, posto que se manifesta pelo conjunto de acções do indivíduo na sociedade, mesmo através das que parecem a priori «íntimas» e «pessoais».




• Os sociólogos puderam assim demonstrar que a «escolha do cônjuge», longe de resultar apenas do «acaso», obedece a regularidades sociais, visto que, com efeito, o que quer que pensem os implicados, «a ‘faísca’, quando cai, não cai em qualquer lado». A homogamia, isto é, o facto de se escolher o cônjuge no mesmo meio social, constitui assim uma tendência afirmada no seio da sociedade francesa, já que, por exemplo, perto de 8 em cada 10 agricultores casam com uma agricultora, enquanto menos de 2 % de quadros partilham a sua existência com uma operária. O casamento mais frequente em França é o de um operário e uma empregada (abrange perto de 60 % dos operários, os outros desposando maioritariamente operárias, menos numerosas do que os operários na população activa).
Como explicar a regularidade deste facto social, já assinalado nos finais dos anos 50 pelo sociólogo francês Alain Girard, quando o sentimento amoroso se substituiu progressivamente à influência familiar, cuja pressão sobre os cônjuges já não se exerce senão de forma indirecta? Primeiro elemento: para casar com alguém é preciso primeiro tê-lo encontrado! É assim possível estabelecer relações entre os lugares de encontro dos (futuros) cônjuges e as suas propriedades sociais. Os membros dos meios populares travam maioritariamente conhecimento nos lugares públicos (festa, baile, rua, café, centro comercial), os quadros do sector privado em lugares privados (festas de família ou entre amigos), ao passo que as categorias fortemente escolarizadas se encontram na maior parte das vezes em lugares reservados (universidade, associação, clube desportivo). Os lugares de sociabilidade diferem sensivelmente em função do meio social, mas por si sós não poderiam explicar a homogamia. As qualidades procuradas no cônjuge revelam-se, com efeito, variáveis em função da posição ocupada no espaço social e fornecem assim uma ilustração da diversidade de princípios do juízo amoroso. As mulheres dos quadros superiores, inter-rogadas sobre as suas expectativas, dão prioridade ao lado «securizante» e à «inteligência» dos seus cônjuges, enquanto as mulheres de operários apreciam particularmente o lado «sério» e o facto de os seus maridos serem «trabalhadores». Os juízos sociais referentes aos parceiros são portanto indissociáveis do conjunto de juízos de «gosto» e, a este título, informam sobre a identidade social da pessoa que os enuncia. À maneira da senhora de Quesnay ao invocar o casamento das suas filhas sem ter necessariamente consciência do que estava a dizer: «Para todas foi o jogo do acaso, o acaso total. A mais velha, que casou com um d’Arsonval, família que conhecemos desde sempre, foi convidada para uma caçada, mas não tinha meio de transporte para lá se deslocar. E muito simplesmente alguém lhe disse ‘mas telefonai a Hubert d’Arsonval’, e pronto!»

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Trabalho e religião andam juntos

Nossa vida cotidiana é social.Estabelecemos relações com outros indivíduos,criamos regras de convivência,inventamos moda,fala e discursos.Os direitos e deveres do indivíduo estão garantidos na Constituição.As pessoas são incentivadas à competitividade no mundo do trabalho,de forma quase agressiva.São tantas metas a cumprir,que muitas vezes não há tempo para falar em religião.
quem quer crescer profissionalmente,na maioria das vezes se pergunta ou se questiona se a espiritualidade deve ser mantida à parte do exercício do trabalho,para que suas crenças não influenciem no que fazem.Como viver as convicções espirituais e exercer a carreira profissional ao mesmo tempo,nessa "luta de gladiadores"que se tornou o mundo do trabalho?
Eis a questão.Mas,será que o papel que a fé desempenha no exercício da profissão não é fator primordial para manter o equilíbrio em meio a tormentas,lutas por melhores salários etc?O indivíduo que sabe que suas crenças espirituais e convicções pessoais não andam separadas do profissional,sabe também que deve administrar sua vida guiado pelos valores morais como ética,justiça,compromisso.Ele é transparente,não nega sua identidade,não vai mentir ou prejudicar colegas de profissão,nem viver de acordo com seu próprio código moral,pois tem na religião um dos pilares que o mantém em pé,ao lado da família e do trabalho.

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