sábado, 28 de agosto de 2010

Eu etiqueta

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de baptismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça até o bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos de mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar, ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas indiossicrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco de roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio de estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, me recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo dos outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem,
meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.


Carlos Drummond de Andrade

sábado, 14 de agosto de 2010

A Liberdade

          A Liberdade, cada vez é mais cerceada, as democracias actuais já não são livres, fazem-nos acreditar que sim, mas na verdade, não o somos. Estamos manietados controlados pelo novo sistema político, assente num denominado "Neoliberalismo político ", que não é mais que o recrudescimento de um "Neofascismo" encapotado que pretende dominar todas as sociedades e com base estratégica no clube de Bildenberg. Não sou adepto das teorias da conspiração, nem do pessimismo, mas sou forçado pelas evidências a analisar o que se passa ao meu redor, o que está a acontecer no nosso mundo à escala global.
          As nossas comunicações são escutadas, os nossos e-mails controlados, os nossos registos de dados circulam nas mãos de milhentas empresas, que nos sujeitam à maior tortura publicitária, somos obrigados a uma sem fim parafernália de proformes de controlo social.
         A política é controlada pelo poder económico, que se sobrepõem aos próprio Estados, a economia já não funciona como teorizou Adam Smith, pois os mercados já não se autoregulam, são intervencionados e manipulados por mãos bem visíveis, a livre concorrência não existe é asfixiada pelo poderio dos grandes grupos económicos! A nossa Liberdade assenta sómente em cada um per si e na sua relação com o actual mundo. Um mundo cada vez mais complicado, mais desprovido de humanismo, sentimento, valores morais e sociais, um mundo dividido, desigual, injusto! Aumenta a pobreza e com ela a miséria social e humana, as desigualdades são abismais e tudo por culpa da ganância do homem, e do capitalismo selvagem que impera na actual sociedade!
         Viver a Liberdade em liberdade hoje, é pois uma falácia. A Liberdade está portanto em cada um de nós, e no sentido que se lhe dá, e como atrás referi, vivida per si e em si com base na sua relação com o actual mundo!

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