Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de baptismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça até o bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos de mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar, ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas indiossicrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco de roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio de estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, me recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo dos outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem,
meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
Carlos Drummond de Andrade
sábado, 28 de agosto de 2010
sábado, 14 de agosto de 2010
A Liberdade
A Liberdade, cada vez é mais cerceada, as democracias actuais já não são livres, fazem-nos acreditar que sim, mas na verdade, não o somos. Estamos manietados controlados pelo novo sistema político, assente num denominado "Neoliberalismo político ", que não é mais que o recrudescimento de um "Neofascismo" encapotado que pretende dominar todas as sociedades e com base estratégica no clube de Bildenberg. Não sou adepto das teorias da conspiração, nem do pessimismo, mas sou forçado pelas evidências a analisar o que se passa ao meu redor, o que está a acontecer no nosso mundo à escala global.
As nossas comunicações são escutadas, os nossos e-mails controlados, os nossos registos de dados circulam nas mãos de milhentas empresas, que nos sujeitam à maior tortura publicitária, somos obrigados a uma sem fim parafernália de proformes de controlo social.
A política é controlada pelo poder económico, que se sobrepõem aos próprio Estados, a economia já não funciona como teorizou Adam Smith, pois os mercados já não se autoregulam, são intervencionados e manipulados por mãos bem visíveis, a livre concorrência não existe é asfixiada pelo poderio dos grandes grupos económicos! A nossa Liberdade assenta sómente em cada um per si e na sua relação com o actual mundo. Um mundo cada vez mais complicado, mais desprovido de humanismo, sentimento, valores morais e sociais, um mundo dividido, desigual, injusto! Aumenta a pobreza e com ela a miséria social e humana, as desigualdades são abismais e tudo por culpa da ganância do homem, e do capitalismo selvagem que impera na actual sociedade!
Viver a Liberdade em liberdade hoje, é pois uma falácia. A Liberdade está portanto em cada um de nós, e no sentido que se lhe dá, e como atrás referi, vivida per si e em si com base na sua relação com o actual mundo!
sexta-feira, 2 de julho de 2010
POR QUE EU VOTARIA NO LULA DE NOVO?
E AGORA COMO FICAMOS ?
Pedro Lima
(Economista e Professor da UFRJ)
Lula, que não entende de sociologia, levou 32 milhões de miseráveis e pobres à condição de consumidores; e que também não entende de economia; pagou as contas de FHC, zerou a dívida com o FMI e ainda empresta algum aos ricos.
Lula, o analfabeto, que não entende de educação, criou mais escolas e universidades que seus antecessores juntos [14 universidades públicas e estendeu mais de 40 campi], e ainda criou o PRÓ-UNI, que leva o filho do pobre à universidade [meio milhão de bolsas para pobres em escolas particulares].
Lula, que não entende de finanças nem de contas públicas, elevou o salário mínimo de 64 para mais de 291 dólares [valores de janeiro de 2010], e não quebrou a previdência como queria FHC.
Lula, que não entende de psicologia, levantou o moral da nação e disse que o Brasil está melhor que o mundo. Embora o PIG-Partido da Imprensa Golpista, que entende de tudo, diga que não.
Lula, que não entende de engenharia, nem de mecânica, nem de nada, reabilitou o Proálcool, acreditou no biodiesel e levou o país à liderança mundial de combustíveis renováveis [maior programa de energia alternativa ao petróleo do planeta].
Lula, que não entende de política, mudou os paradigmas mundiais e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes, passou a ser respeitado e enterrou o G-8 [criou o G-20].
Lula, que não entende de política externa nem de conciliação, pois foi sindicalista brucutu; mandou às favas a ALCA, olhou para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos da América Latina, onde exerce liderança absoluta sem ser imperialista. Tem fácil trânsito junto a Chaves, Fidel, Obama, Evo etc. Bobo que é, cedeu a tudo e a todos.
Lula, que não entende de mulher nem de negro, colocou o primeiro negro no Supremo (desmoralizado por brancos) uma mulher no cargo de primeira ministra, e que pode inclusive, fazê-la sua sucessora.
Lula, que não entende de etiqueta, sentou ao lado da rainha (a convite dela) e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.
Lula, que não entende de desenvolvimento, nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC; antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é hora de o Estado investir; hoje o PAC é um amortecedor da crise.
Lula, que não entende de crise, mandou baixar o IPI e levou a
indústria automobilística a bater recorde no trimestre [como também na linha branca de eletrodomésticos].
Lula, que não entende de português nem de outra língua, tem fluência entre os líderes mundiais; é respeitado e citado entre as pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual [o melhor do mundo para o Le Monde, Times, News Week, Financial Times e outros...].
Lula, que não entende de respeito a seus pares, pois é um brucutu, já tinha empatia e relação direta com George Bush - notada até pela imprensa americana - e agora tem a mesma empatia com Barack Obama.
Lula, que não entende nada de sindicato, pois era apenas um agitador;.. é amigo do tal John Sweeny [presidente da AFL-CIO - American Federation Labor-Central Industrial Congres - a central de trabalhadores dos Estados Unidos, que lá sim, é única...]e entra na Casa Branca com credencial de negociador e fala direto com o Tio
Sam lá, nos "States".
Lula, que não entende de geografia, pois não sabe interpretar um mapa é autor da [maior] mudança geopolítica das Américas [na história].
Lula, que não entende nada de diplomacia internacional, pois nunca estará preparado, age com sabedoria em todas as frentes e se torna interlocutor universal.
Lula, que não entende nada de história, pois é apenas um locutor de bravatas; faz história e será lembrado por um grande legado, dentro e fora do Brasil.
Lula, que não entende nada de conflitos armados nem de guerra, pois é um pacifista ingênuo, já é cotado pelos palestinos para dialogar com Israel.
Lula, que não entende nada de nada;.. é bem melhor que todos os outros...!
segunda-feira, 7 de junho de 2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
Pela abolição do trabalho escravo
terça-feira, 18 de maio de 2010
quarta-feira, 12 de maio de 2010
A Escravidão nos Seringais
Vim pro Amazonas ganhar dinheiro, e não ganhei foi nada… O negócio da seringa só dava pra gente se aviar… Vivia naquela ilusão… Se eu tivesse no Ceará não queria saber mais do Amazonas. Relato de um Seringueiro do Rio Madeira
Por Ricardo Lima
Michel Foucault, influenciado por Friedrich Nietzsche, afirmara que por detrás da pompa dos hinos nacionais cantando a glória do nascimento da pátria, se esconde milhares de vidas sacrificadas nas guerras de unificação; e por detrás do mito da criação do mundo, encenando a beleza do jardim do Éden e a ingênua harmonia entre Adão e Eva, se esconde, na verdade, o parentesco com o macaco e, por sua vez, o cinzento laço com o verme…
A história, segundo o pensador francês, está repleta destas lendas que escondem um lado obscuro no fundo dos seus épicos versos, criados em favor de uma determinada gama de interesses. Cabe ao sociólogo e ao historiador desvendá-los — efetuando a arqueologia dos períodos históricos e das relações sociais.
Um dos exemplos mais típicos no Amazonas de fatos históricos mascarados por interesses escusos são as propagandas e historiografias oficiais com relação ao período áureo da borracha, mostrando-o como um tempo de grandes realizações, tanto no terreno das obras públicas quanto no âmbito social, ressaltando a riqueza produzida neste período e o aperfeiçoamento cultural pelo qual Manaus passara (a belle epóque, que nosso governo teima em reproduzir, de forma caricatural, em festivais de opera) nos quase trinta anos de pulsação da economia gomífera, como um dos períodos dos mais interessantes que a Paris dos Tristes Trópicos já teve.
Tal forma de ver a historia e as sociedades, tão comum em historiadores a direita do espectro político e na propaganda de governos populistas, interessados em criar uma bandeira pela qual possam arrancar certos dividendos políticos, nada mais é do que uma forma de mascarar a verdadeira e perversa dinâmica da qual é regida os períodos históricos e, em questão, a economia extrativa. Longe de ser um período de requinte social e cultural, o fausto da economia gomífera foi caracterizada pela exploração compulsória de homens e mulheres sob o regime hediondo do aviamento, e pelo fato absurdo de que, como dissera Euclides da Cunha, o homem trabalhava para escravizar-se.
Muitos já foram os estudos efetuados sobre o período áureo da economia gomífera, principalmente do ponto de vista histórico — a Ilusão do Fausto de Edinea Mascarenhas Dias é um dos exemplos mais famosos. Faltava, entretanto, um estudo de precisões mais sociológicas que enfocasse o modo de produção extrativista a partir não de acontecimentos ou datas, mas a partir das suas relações sociais e de como estes homens se comportavam frente à dicotomia de uma floresta cheia de perigos e de um sistema de compra e troca tão impiedoso.
Servidão Humana na Selva: O Aviamento e o Barracão nos seringais na Amazônia, de Carlos Correia Teixeira, vem tapar este buraco na sociologia sobre o modo de produção extrativista e se juntar ao seleto hall de obras que pensam a Amazônia criticamente, em contraposição a forma linear e conservadora de pensadores convencionais como André Vidal de Araújo, Álvaro Maia ou Samuel Bechimol. Apesar de ser um estudo efetuado na década de setenta, foi tese de mestrado do escritor, Servidão Humana está longe de ser um estudo defasado, longe disso, é um ensaio que vai até o cerne do acontecimento histórico, achando as descontinuidades das relações do seringal, destrinchando seu lado cinzento, recompondo arqueologicamente suas contradições, os dramas do trabalhador da seringa, seus sofrimentos e mesmo seus raros momentos de felicidade, sentindo-se um verdadeiro artista ao defumar a borracha: “é o maior prazer do mundo!” era a frase de um trabalhador contida do livro.
Dialogando com varias vertentes da sociologia, como por exemplo com o esquema de dominação patrimonial de Max Weber, o autor, contudo, centra-se no legado teórico de Karl Marx para a sua análise de cada um dos aspectos das relações tecidas no seringal.
Muito interessante é a afirmação de que o barracão é a nossa versão dos engenhos, criando uma complexa rede de relações sociais que ainda não foram devidamente estudadas — pelo menos no que tange a sociologia.
O seringal, segundo Carlos Teixeira, mesmo depois de quase um século passado desde o fim da preponderância extrativista, sua organização persistiu e ultrapassou mais de um século.
Mais de trezentos mil nordestinos vieram para a região Amazônica a partir da década de setenta do século XIX. Boa parte destes pobres diabos provenientes do Ceará — iludidos com a promessa de enriquecimento fácil. Contudo, quando aqui chegavam, o véu de suas ilusões era brutalmente estraçalhado pela cruel realidade de ter estarem sujeitos a um regime que, já os fazendo endividados desde o momento em que ali chegavam, os fazia trabalhar mais de dezoito horas por dia.
Sozinhos nos seringais, sem uma legislação trabalhista ou qualquer autoridade que pudesse inferir por eles, os seringueiros eram largados aos próprios caprichos do seringalista, que os explorava desde a adulteração dos preços das mercadorias vendidas no barracão, até nos pesos da borracha quando de sua venda ao senhoril. Muitas eram os historias de abusos e crueldades contra o seringueiro que tentasse fugir ou cogitasse vender a borracha ao regatão — vale dizer que este era um fator de instabilidade ao poder tirânico do seringalista, travar negócios clandestinamente com o seringueiro. Teixeira menciona uma história, contada pelos seringueiros mais antigos, de um grande buraco cheio de cobras onde o patrão costumava jogar aqueles que fizessem frente ao seu poder.
Os seringalistas, verdadeiros senhores feudais na selva, nunca tiveram, de fato, uma mentalidade empreendedora. Sua forma de gerir seus negócios estava muito mais para um pré-capitalismo rudimentar de típico de nobrezas decadentes. Não se preocupavam em aperfeiçoar as técnicas de trabalho em seus seringais. A situação como estava já os satisfazia. Hauriam enormes lucros de suas propriedades, gozavam de enorme conforto, tinham ao redor de si esposas, servos e amantes. Seus filhos estudavam nas melhores escolas do país e do exterior. No final de cada fabrico iam gastar suas fortunas nos centros econômicos do Brasil ou da Europa. Tinham o poder de colocar seus apadrinhados nas esferas de poder para que defendessem seus interesses frente ao Estado. Eram na verdade, uma casta parasita que desfrutava os privilégios de uma economia predatória e de enclave, cujos resultados estavam voltados para fora — não é assim o mesmo com o nosso decadente pólo industrial?
Durante a época da pesquisa o escritor detectou que ocorria uma flagrante mudança nas relações produzidas no seringal. Outrora predominantemente as relações do toco: em que o seringueiro tinha uma casa disponibilizada pelo patrão, assim como as estradas, equipamento e mercadorias para consumo e de sua família, assim deveria fornecer determinada quantidade de borracha por fabrico ao senhoril; entretanto, o toco vinha a transmutar-se em regime de gleba, onde o seringueiro passa a arrendar uma faixa de terra com sua família e, além de extrair a borracha, desenvolve a agricultura, pagando ao seringalista o aluguel desta em víveres ou em dinheiro.
A servidão humana, infelizmente, não era uma característica típica nos seringais da Amazônia, estendendo-se também para outros ramos da atividade capitalista, como por exemplo, o grande latifúndio monocultor do sul do Pará e sul do Amazonas, onde milhares de vidas são reduzidas e reles condição de coisa.
Quem sabe para a próxima edição o autor providencia um capitulo sobre a situação atual dos seringais estudados no livro, Juma e Três Casas, e outro sobre formas de organização sindical dos seringueiros na região estudada — a região do Rio Madeira, onde também nascera Carlos Teixeira.
Servidão Humana na Selva torna-se, desde seu lançamento, uma referencia obrigatória para quem estiver interessado em estudar os seringais, suas contradições, desmandos e crueldades com que essa variante do modo capitalista de produção subordina o homem.
Por Ricardo Lima
Michel Foucault, influenciado por Friedrich Nietzsche, afirmara que por detrás da pompa dos hinos nacionais cantando a glória do nascimento da pátria, se esconde milhares de vidas sacrificadas nas guerras de unificação; e por detrás do mito da criação do mundo, encenando a beleza do jardim do Éden e a ingênua harmonia entre Adão e Eva, se esconde, na verdade, o parentesco com o macaco e, por sua vez, o cinzento laço com o verme…
A história, segundo o pensador francês, está repleta destas lendas que escondem um lado obscuro no fundo dos seus épicos versos, criados em favor de uma determinada gama de interesses. Cabe ao sociólogo e ao historiador desvendá-los — efetuando a arqueologia dos períodos históricos e das relações sociais.
Um dos exemplos mais típicos no Amazonas de fatos históricos mascarados por interesses escusos são as propagandas e historiografias oficiais com relação ao período áureo da borracha, mostrando-o como um tempo de grandes realizações, tanto no terreno das obras públicas quanto no âmbito social, ressaltando a riqueza produzida neste período e o aperfeiçoamento cultural pelo qual Manaus passara (a belle epóque, que nosso governo teima em reproduzir, de forma caricatural, em festivais de opera) nos quase trinta anos de pulsação da economia gomífera, como um dos períodos dos mais interessantes que a Paris dos Tristes Trópicos já teve.
Tal forma de ver a historia e as sociedades, tão comum em historiadores a direita do espectro político e na propaganda de governos populistas, interessados em criar uma bandeira pela qual possam arrancar certos dividendos políticos, nada mais é do que uma forma de mascarar a verdadeira e perversa dinâmica da qual é regida os períodos históricos e, em questão, a economia extrativa. Longe de ser um período de requinte social e cultural, o fausto da economia gomífera foi caracterizada pela exploração compulsória de homens e mulheres sob o regime hediondo do aviamento, e pelo fato absurdo de que, como dissera Euclides da Cunha, o homem trabalhava para escravizar-se.
Muitos já foram os estudos efetuados sobre o período áureo da economia gomífera, principalmente do ponto de vista histórico — a Ilusão do Fausto de Edinea Mascarenhas Dias é um dos exemplos mais famosos. Faltava, entretanto, um estudo de precisões mais sociológicas que enfocasse o modo de produção extrativista a partir não de acontecimentos ou datas, mas a partir das suas relações sociais e de como estes homens se comportavam frente à dicotomia de uma floresta cheia de perigos e de um sistema de compra e troca tão impiedoso.
Servidão Humana na Selva: O Aviamento e o Barracão nos seringais na Amazônia, de Carlos Correia Teixeira, vem tapar este buraco na sociologia sobre o modo de produção extrativista e se juntar ao seleto hall de obras que pensam a Amazônia criticamente, em contraposição a forma linear e conservadora de pensadores convencionais como André Vidal de Araújo, Álvaro Maia ou Samuel Bechimol. Apesar de ser um estudo efetuado na década de setenta, foi tese de mestrado do escritor, Servidão Humana está longe de ser um estudo defasado, longe disso, é um ensaio que vai até o cerne do acontecimento histórico, achando as descontinuidades das relações do seringal, destrinchando seu lado cinzento, recompondo arqueologicamente suas contradições, os dramas do trabalhador da seringa, seus sofrimentos e mesmo seus raros momentos de felicidade, sentindo-se um verdadeiro artista ao defumar a borracha: “é o maior prazer do mundo!” era a frase de um trabalhador contida do livro.
Dialogando com varias vertentes da sociologia, como por exemplo com o esquema de dominação patrimonial de Max Weber, o autor, contudo, centra-se no legado teórico de Karl Marx para a sua análise de cada um dos aspectos das relações tecidas no seringal.
Muito interessante é a afirmação de que o barracão é a nossa versão dos engenhos, criando uma complexa rede de relações sociais que ainda não foram devidamente estudadas — pelo menos no que tange a sociologia.
O seringal, segundo Carlos Teixeira, mesmo depois de quase um século passado desde o fim da preponderância extrativista, sua organização persistiu e ultrapassou mais de um século.
Mais de trezentos mil nordestinos vieram para a região Amazônica a partir da década de setenta do século XIX. Boa parte destes pobres diabos provenientes do Ceará — iludidos com a promessa de enriquecimento fácil. Contudo, quando aqui chegavam, o véu de suas ilusões era brutalmente estraçalhado pela cruel realidade de ter estarem sujeitos a um regime que, já os fazendo endividados desde o momento em que ali chegavam, os fazia trabalhar mais de dezoito horas por dia.
Sozinhos nos seringais, sem uma legislação trabalhista ou qualquer autoridade que pudesse inferir por eles, os seringueiros eram largados aos próprios caprichos do seringalista, que os explorava desde a adulteração dos preços das mercadorias vendidas no barracão, até nos pesos da borracha quando de sua venda ao senhoril. Muitas eram os historias de abusos e crueldades contra o seringueiro que tentasse fugir ou cogitasse vender a borracha ao regatão — vale dizer que este era um fator de instabilidade ao poder tirânico do seringalista, travar negócios clandestinamente com o seringueiro. Teixeira menciona uma história, contada pelos seringueiros mais antigos, de um grande buraco cheio de cobras onde o patrão costumava jogar aqueles que fizessem frente ao seu poder.
Os seringalistas, verdadeiros senhores feudais na selva, nunca tiveram, de fato, uma mentalidade empreendedora. Sua forma de gerir seus negócios estava muito mais para um pré-capitalismo rudimentar de típico de nobrezas decadentes. Não se preocupavam em aperfeiçoar as técnicas de trabalho em seus seringais. A situação como estava já os satisfazia. Hauriam enormes lucros de suas propriedades, gozavam de enorme conforto, tinham ao redor de si esposas, servos e amantes. Seus filhos estudavam nas melhores escolas do país e do exterior. No final de cada fabrico iam gastar suas fortunas nos centros econômicos do Brasil ou da Europa. Tinham o poder de colocar seus apadrinhados nas esferas de poder para que defendessem seus interesses frente ao Estado. Eram na verdade, uma casta parasita que desfrutava os privilégios de uma economia predatória e de enclave, cujos resultados estavam voltados para fora — não é assim o mesmo com o nosso decadente pólo industrial?
Durante a época da pesquisa o escritor detectou que ocorria uma flagrante mudança nas relações produzidas no seringal. Outrora predominantemente as relações do toco: em que o seringueiro tinha uma casa disponibilizada pelo patrão, assim como as estradas, equipamento e mercadorias para consumo e de sua família, assim deveria fornecer determinada quantidade de borracha por fabrico ao senhoril; entretanto, o toco vinha a transmutar-se em regime de gleba, onde o seringueiro passa a arrendar uma faixa de terra com sua família e, além de extrair a borracha, desenvolve a agricultura, pagando ao seringalista o aluguel desta em víveres ou em dinheiro.
A servidão humana, infelizmente, não era uma característica típica nos seringais da Amazônia, estendendo-se também para outros ramos da atividade capitalista, como por exemplo, o grande latifúndio monocultor do sul do Pará e sul do Amazonas, onde milhares de vidas são reduzidas e reles condição de coisa.
Quem sabe para a próxima edição o autor providencia um capitulo sobre a situação atual dos seringais estudados no livro, Juma e Três Casas, e outro sobre formas de organização sindical dos seringueiros na região estudada — a região do Rio Madeira, onde também nascera Carlos Teixeira.
Servidão Humana na Selva torna-se, desde seu lançamento, uma referencia obrigatória para quem estiver interessado em estudar os seringais, suas contradições, desmandos e crueldades com que essa variante do modo capitalista de produção subordina o homem.
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Amazonia,
Sociologia do Trabalho
segunda-feira, 10 de maio de 2010
sábado, 1 de maio de 2010
O pão do povo (B. Brecht)
A justiça é o pão do povo.
Às vezes bastante, às vezes pouca.
Às vezes de gosto bom, às vezes de gosto ruim.
Quando o pão é pouco, há fome.
Quando o pão é ruim, há descontentamento.
Fora com a justiça ruim!
Cozida sem amor, amassada sem saber!
A justiça sem amor, cuja casca é cinzenta!
A justiça de ontem, que chega tarde demais!
Quando o pão é bom e bastante
O resto da refeição pode ser perdoado.
Não pode haver logo tudo em abundância.
Alimentado do pão da justiça
Pode ser feito o trabalho
De que resulta a abundância.
Como é necessário o pão diário
É necessária a justiça diária.
Sim, mesmo várias vezes ao dia.
De manhã, à noite, no trabalho, no prazer.
No trabalho que é prazer.
Nos tempos duros e nos felizes
O povo necessita de pão diário
Da justiça, bastante e saudável.
Sendo o pão da justiça tão importante
Quem, amigos, deve prepará-lo?
Quem prepara o outro pão?
Assim como o outro pão
Deve o pão da justiça
Ser preparado pelo povo.
Bastante, saudável, diário.
Às vezes bastante, às vezes pouca.
Às vezes de gosto bom, às vezes de gosto ruim.
Quando o pão é pouco, há fome.
Quando o pão é ruim, há descontentamento.
Fora com a justiça ruim!
Cozida sem amor, amassada sem saber!
A justiça sem amor, cuja casca é cinzenta!
A justiça de ontem, que chega tarde demais!
Quando o pão é bom e bastante
O resto da refeição pode ser perdoado.
Não pode haver logo tudo em abundância.
Alimentado do pão da justiça
Pode ser feito o trabalho
De que resulta a abundância.
Como é necessário o pão diário
É necessária a justiça diária.
Sim, mesmo várias vezes ao dia.
De manhã, à noite, no trabalho, no prazer.
No trabalho que é prazer.
Nos tempos duros e nos felizes
O povo necessita de pão diário
Da justiça, bastante e saudável.
Sendo o pão da justiça tão importante
Quem, amigos, deve prepará-lo?
Quem prepara o outro pão?
Assim como o outro pão
Deve o pão da justiça
Ser preparado pelo povo.
Bastante, saudável, diário.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Cimeira - Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) no Porto.
És estudante do ensino superior?
Então esta informação interessa-te!
A Amnistia Internacional, a Associação das Nações Unidas de Portugal, a Agência ODM e a Objectivo 2015-Campanha do Milénio das Nações Unidas vão promover a Cimeira (Ideal) dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, só para estudantes universitários, que terá lugar nos dias 27 de Abril em Lisboa, 28 de Abril em Coimbra e 29 de Abril no Porto.
Através desta participação os estudantes portugueses poderão contribuir para a Cimeira ODM-2010 real que decorrerá em Setembro próximo, já que o objectivo final desta iniciativa é criar um conjunto de recomendações que serão entregues ao Estado português. Esta é a tua oportunidade de fazeres parte da resolução de problemas tão graves como a pobreza.
Antes de 189 líderes mundiais se reunirem na Cimeira ODM 2010, que terá lugar em Setembro, estudantes das Universidades portuguesas vão poder dar o seu contributo e ajudar a encontrar soluções para que os Estados cumpram os 8 Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) até 2015.
Participa! Informa-te em http://www.amnistia-internacional.pt/ (ainda estão a ser aceites inscrições)
Inscreve-te em cimeira_odm_porto@hotmail.com
Então esta informação interessa-te!
A Amnistia Internacional, a Associação das Nações Unidas de Portugal, a Agência ODM e a Objectivo 2015-Campanha do Milénio das Nações Unidas vão promover a Cimeira (Ideal) dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, só para estudantes universitários, que terá lugar nos dias 27 de Abril em Lisboa, 28 de Abril em Coimbra e 29 de Abril no Porto.
Através desta participação os estudantes portugueses poderão contribuir para a Cimeira ODM-2010 real que decorrerá em Setembro próximo, já que o objectivo final desta iniciativa é criar um conjunto de recomendações que serão entregues ao Estado português. Esta é a tua oportunidade de fazeres parte da resolução de problemas tão graves como a pobreza.
Antes de 189 líderes mundiais se reunirem na Cimeira ODM 2010, que terá lugar em Setembro, estudantes das Universidades portuguesas vão poder dar o seu contributo e ajudar a encontrar soluções para que os Estados cumpram os 8 Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) até 2015.
Participa! Informa-te em http://www.amnistia-internacional.pt/ (ainda estão a ser aceites inscrições)
Inscreve-te em cimeira_odm_porto@hotmail.com
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Objectivos de desenvolvimento do Milénio
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Sociologia de Max Weber ( Julien Freund )
Sociologia de Max Weber de Julien Freund
Resumo escrito por: Pablo Medeiros
Resumo escrito por: Pablo Medeiros
No debate metodológico no final do século XIX, sobre o estatuto das ciências humanas, chega-se a afirmação de duas espécies de métodos principais, um generalizante e outro individualizante, que para Weber qualquer ciência pode utilizar um ou outro método, é a necessidade da pesquisa que vai definir o caminho a ser tomado, portanto é falso afirmar que as ciências da natureza utilizam o processo generalizante, e as da cultura o processo individualizante. Weber nega que o conhecimento seja uma cópia fiel da realidade, o problema está nas relações entre lei e história, entre conceito e realidade. Se utilizarmos o método generalizante à realidade perde seus aspectos particulares, reduzem-se as diferentes qualidades, a quantidades formando uma proposição geral da realidade, já o método individualizante não utiliza o que há de geral, trabalha apenas com as características qualitativas e singulares dos fenômenos. Mas para Weber não existe um método pronto, acabado, tudo varia de acordo com os problemas a resolver. Para Weber a atividade social é qualquer atividade que o individuo faz orientando-se pela ação de outros, e ela só existe quando o individuo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações, com os demais. Nem toda atividade será social, mas aquelas que impliquem alguma orientação significativa visando outros indivíduos. Weber tenta definir a atividade social pelo seu caráter mais racional. Para isso distingue a atividade racional por finalidade, a atividade racional por valor, a atividade afetiva e a tradicional. Só a pessoa individual é um agente compreensível de uma atividade orientada significativamente. Todo apelo a um sentido supõe uma consciência, e esta é individual. Os conceitos coletivos só se tornam sociologicamente inteligíveis a partir das relações significativas que as condutas individuais comportam. Tanto na conceituação da atividade social, como nos seus diferentes tipos, percebe-se que Weber não analisa as regras e normas sociais como sendo exteriores aos indivíduos, mas como resultante do conjunto de acções individuais, sendo que os agentes possuem diferentes formas de conduta, e de escolhas, constantes ou não, pois o Estado, a religião, só existe porque muitos indivíduos orientam-se reciprocamente suas ações num determinado sentido.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Primeiro email foi enviado há 40 anos ( 29 de Outubro de 1969 )
Fernando Zamith *
* Agência Lusa
Primeira mensagem de correio electrónico foi "LO", porque o sistema foi abaixo e o email ficou a meio.
A primeira mensagem de correio electrónico entre dois computadores (e-mail em rede) situados em locais distantes foi enviada em 29 de Outubro de 1969, quase dois meses depois do primeiro nó que deu origem à Internet.
O texto dessa primeira mensagem continha apenas duas letras e um ponto - "LO.". O investigador da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) Leonard Kleinrock queria escrever "LOGIN", mas o sistema foi abaixo a meio da transmissão.
A mensagem seguiu do computador do laboratório de Kleinrock na UCLA para o de Douglas Engelbart no Stanford Research Institute, utilizando como suporte a recém-criada rede da ARPA (Advanced Research Projects Agency), agência financiada pelo governo norte-americano.
O primeiro nó de ligação entre dois computadores da Arpanet tinha sido estabelecido pouco tempo antes, em 02 de Setembro de 1969, pelo que a história da Internet e do e-mail em rede se confundem.
No início da década de 1960, surgiram alguns sistemas de troca de mensagens entre terminais de um mesmo computador, em tempo diferido (1961) e em tempo real (1965), mas o primeiro e-mail em rede foi transmitido apenas em 1969.
Dois anos depois, em 1971, Ray Tomlinson inventou os primeiros programas para envio de e-mails em rede através da Arpanet e criou a arroba ( " hut ", em Inglês - @) para separar o login do utilizador do domínio do servidor.
Em 1976, a rainha de Inglaterra, Isabel II, enviou o seu primeiro e-mail, e em 1978 surgiu o primeiro spam, entendido como mensagem de correio electrónico enviada para múltiplos destinatários sem consentimento destes.
Quarenta anos depois, 70 por cento dos e-mails enviados diariamente são "spam", uma "praga" que acompanha o crescimento dos vírus e do marketing na Internet, mas que tem sido combatida, com relativo sucesso, por diversos sistemas de filtragem entretanto desenvolvidos.
O "spam" não é, contudo, o único adversário do e-mail, que encontra cada vez mais concorrentes noutros sistemas de comunicação de texto, áudio e vídeo, de envio de ficheiros e de troca de mensagens instantâneas, através de ferramentas como o Messenger, Skype e Twitter, a que se juntará em breve o Google Wave.
"Pela sua formalidade, o e-mail é algo pouco apelativo para os utilizadores mais jovens. Os blogs e o Twitter ocupam um espaço menos informal", disse à agência Lusa Libório Silva, autor do livro sobre correio electrónico mais vendido em Portugal, "e-mail", editado em 2008.
Libório Silva afirmou que o e-mail continua a ser uma ferramenta em expansão em todo o Mundo, pela facilidade de utilização e pela capacidade de envio de ficheiros associados a mensagens.
Libório Silva destacou como principal ruptura na história do e-mail o surgimento dos serviços de webmail, que são actualmente líderes de mercado entre utilizadores individuais, mas não nas empresas, que continuam a preferir servidores internos.
Outro momento importante foi o surgimento do e-mail da Google (gmail), oferecendo um gigabyte de capacidade, quando os serviços de então ofereciam apenas quatro megabytes, "250 vezes menos".
Apesar de popular, o e-mail continua a ser utilizado pela esmagadora maioria das pessoas sem certificados digitais de segurança, pelo que cada mensagem pode ser interceptada por "um qualquer técnico de informática que tenha acesso a um dos 'routers' por onde passa".
"Mais de 99 por cento dos e-mails são como postais, sem terem envelope por fora", comparou Libório Silva, realçando que só um por cento são "cartas lacradas".
Outros dos pioneiros da Internet em Portugal, Vítor Magalhães, disse à Lusa que "o e-mail continua a ser a funcionalidade da Internet que mais se mantém e que tem tido um desenvolvimento normal", sendo os fóruns de discussão e o Twitter "alternativas e não concorrentes".
Para Vítor Magalhães, "a tentativa da Google de destruir o e-mail através do Google Wave" não deverá ter o sucesso que a empresa prevê, porque o novo serviço contém o mesmo mecanismo e funcionalidade básica do e-mail, de comunicação textual e de transferência de conteúdo multimédia, pelo que não há uma mudança de conceito.
* Agência Lusa
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Manicómios, Prisões e Conventos - Erving Goffman
Por: Victor Simões
1. “Manicómios, Prisões e Conventos”
b) a obediência a essas regras;
c) prémios e privilégios a quem obedece a essas regras. “A construção de um mundo em torno desses privilégios secundários é talvez o aspecto mais importante da cultura dos internados,(…)” (Goffman, 2003, p.51).
“ No ciclo usual de socialização de adultos, esperamos que a alienação e a mortificação sejam seguidas por um novo conjunto de crenças a respeito do mundo e uma nova maneira de conceber os eus.” (Goffman, 2003, p. 143).
Referências bibliográficas:
GOFFMAN, Erving ( 2003 ) – Manicómios, Prisões e Conventos, Brasil, Editora Perspectivas S.A.
GIDDENS, A. (1984), The constitution of society: outline of the theory of structuration. Berkeley, University of California Press.
GIDDENS, Anthony (2008) – Sociologia. 6ª edição, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. ISBN 978-972-31-1075-3.
FROIS, Catarina. Erving Goffman: desbravador do cotidiano. Anál. Social, jul. 2005, no.175, p.435-438. ISSN 0003-2573.
Introdução
Erving Goffman nasceu em Manville, Alberta – Canadá em 11 de Junho de 1922 e faleceu em Filadélfia no Estado da Pensilvânia nos Estados Unidos da América no dia 19 de Novembro de 1982. Obteve o grau de bacharel pela Universidade de Toronto em 1945, tendo obtido os graus de mestre em 1949 e o de Doutor em 1953 na Universidade de Chicago, onde estudou tanto Sociologia como Antropologia Social. Em 1958 passou a integrar o corpo docente da Universidade da Califórnia em Berkeley, tendo sido promovido a Professor Titular em 1962. Ingressou na Universidade da Pensilvânia em 1968, onde foi professor de Antropologia e Sociologia. Em 1977 obteve o prémio Guggenheim. Foi presidente da Sociedade Americana de Sociologia, em 1981-1982. Efectuou pesquisas na linha da sociologia interpretativa e cultural, iniciada por Max Weber.
Em La mise en scène de la vie quotidienne, Goffman desenvolve a ideia que mais identifica a sua obra: o mundo é um teatro e cada um de nós, individualmente ou em grupo, teatraliza ou é actor consoante as circunstâncias em que nos encontremos, marcados por rituais posições distintivas relativamente a outros indivíduos ou grupos. Goffman aplicou ao estudo da civilização moderna os mesmos métodos de observação da antropologia cultural.
Decorridos 27 anos após a sua morte, parece ser pacífica e não ser objecto de discussão a mais-valia da contribuição teórica de Goffman para as ciências sociais. Segundo vários autores que analisaram e comentaram a sua obra (Giddens, 1984, 1988; Collins, 1988; Strong, 1988, e outros). Para alguns, ele foi um dos grandes sociólogos do pós-Guerra (Giddens, 1988, p. 250); para os mais entusiastas, o maior sociólogo da segunda metade do século XX (Collins, 1988, p. 41). Na disputa teórica dos anos de 1980 e 1990, que se dava em torno da constituição de uma teoria da prática, os seus estudos foram fundamentais. As noções de consciência prática e de agência na teoria da estruturação de Giddens (1984) muito devem às análises de Goffman sobre as ocasiões situadas e a co-presença em que parte substancial das informações veículadas depende da actividade corporal dos agentes sociais.
Segundo Goffman a sua obra Manicómios, Prisões e Conventos, é o resultado de uma pesquisa de três anos de estudos de comportamentos em enfermarias dos Institutos Nacionais do Centro Clínico de Saúde, dos quais, um ano foi dedicado a um trabalho de campo no Hospital Elizabeths, em Washington, nos Estados Unidos.
O objectivo da pesquisa foi conhecer e peceber o mundo vivênciado e percepcionado pelos internados em instituições totais. "Uma instituição total pode ser definida como um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada” Goffman (2003, p.11):. O interesse fundamental de Goffman é chegar a uma versão sociológica da estrutura do eu. O autor afirma que o trabalho não sofreu influências ou restrições capazes de limitar a liberdade do pesquisador.
1. “Manicómios, Prisões e Conventos”
A obra trata de instituições totais de modo geral e foca o mundo do internado e não ao mundo do pessoal dirigente e está dividida em quatro ensaios:
O primeiro, "As características das Instituições Totais", analisa a vida em instituições totais trabalha com dois exemplos – hospitais para doentes mentais e prisões. Os demais são:
"A carreira moral do doente mental", são considerados os efeitos iniciais da institucionalização nas relações sociais que o indivíduo tinha antes de ser internado.
"A vida íntima de uma instituição pública", que se refere à ligação que o interno manifesta relativamente à sua cela e, a forma como os internados possam manter uma dada distancia entre si.
"O modelo médico e a hospitalização de doentes mentais", que reporta a uma chamada de atenção às equipas especializadas, para considerarem a perspectiva médica na apresentação, ao internado, dos factos relativos à sua situação.
O autor foca-se, essencialmente, no carácter fechado destas instituições, que pelas suas características e modo de funcionar não permitem qualquer contacto entre o internado e o mundo exterior, até porque o objectivo é excluí-lo completamente do mundo social de origem, de modo que o internado assimile totalmente as regras internas, evitando comparações, prejudiciais ao seu processo de "aprendizagem". Estas instituições podem ser divididas em cinco grupos:
- Um primeiro grupo, instituições criadas para cuidar das pessoas que, são incapazes e inofensivas; neste caso estão as diferentes instituições para cegos, velhos, órfãos e indigentes.
- Num segundo grupo, há locais estabelecidos para cuidar de pessoas consideradas incapazes de cuidar de si mesmas e que são também uma ameaça à comunidade, embora de maneira não intencional; sanatórios para tuberculosos, hospitais para doentes mentais etc.
- Um terceiro grupo é organizado para proteger a comunidade contra perigos intencionais; cadeias, penitenciárias, campos de prisioneiros de guerra, campos de concentração.
- Um quarto grupo, instituições estabelecidas com a intenção de realizar de modo mais adequado alguma tarefa de trabalho, e que se justificam apenas através de tais fundamentos instrumentais: quartéis, navios, escolas internas, campos de trabalho, colónias etc.
- Um quinto grupo, os estabelecimentos destinados a servir de refúgio do mundo, embora muitas vezes sirvam também como locais de instrução para os religiosos; entre exemplos de tais instituições, é possível citar abadias, mosteiros, conventos e outros claustros (Goffman 2003, p. 16-17).
No interior das instituições habitam não apenas as equipas dirigentes, mas, também os internados, os prisioneiros, os que optam por uma vida solitária. Na passagem de uma vida no exterior para uma vida de confinamento espacial e social, o indivíduo passa por processos de modificação. Em qualquer dos casos, seja a institucionalização forçada do sujeito ou seja por sua iniciativa, inicia-se um processo de mortificação do eu inicial do sujeito, pelas concessões de adaptação às novas regras institucionais. “Na linguagem exata de alguma de nossas mais antigas instituições totais, começa a uma série de rebaixamentos, degradações, humilhações e profanações do eu. O seu eu é sistematicamente, embora muitas vezes não intencionalmente, mortificado “. (Goffman, 2003, p.24)”.O indivíduo é despido da sua personalidade real e a personalidade que lhe é induzida, não só pela instituição como por toda a sociedade. Goffman analisa ainda a questão do tempo vivido no interior da instituição, nomeadamente a organização do tempo dos internados ou prisioneiros, segundo actividades programadas milimetricamente, cuja função, para além de disciplinar os sujeitos, os inibe em termos de desenvolvimento pessoal.
O indivíduo “começa a passar por algumas mudanças radicais na sua carreira moral, uma carreira composta pelas progressivas mudanças que ocorrem nas crenças que têm a seu respeito e a respeito dos outros que são significativos para ele.
Os processos pelos quais o eu da pessoa é mortificado são relativamente padronizados nas instituições totais”.(Goffman, 2003, p.24). A mortificação do eu, é a tensão entre o mundo doméstico e o mundo institucional: O primeiro processo de ‘mortificação do eu’ é a barreira posta pela instituição entre o interno e o mundo exterior. Uma ‘morte civil’, em cujos processos de admissão tenta-se obter a história de vida, partindo de um interrogatório do interno. A lógica da obediência e castigo compõe os processos de admissão como formas de iniciação.
O segundo processo de ‘mortificação’ designa-se por mutação do eu: perda do nome, separação das posses, dos seus bens (deformação pessoal); maus tratos, marcas e perdas dos membros do corpo (desfiguração pessoal); violação do território do eu, invasão das fronteiras entre o ser dos indivíduos e o ambiente (exposição contaminadora). A violação é um modelo de contaminação interpessoal, o exame e o examinador violam o território do eu. Para suavizar essas mortificações – os sistemas de privilégios. Há três elementos deste sistema:
a) as regras da casa;b) a obediência a essas regras;
c) prémios e privilégios a quem obedece a essas regras. “A construção de um mundo em torno desses privilégios secundários é talvez o aspecto mais importante da cultura dos internados,(…)” (Goffman, 2003, p.51).
Nas instituições totais dos três tipos estudadas por Goffman, as justificações para a mortificação do “eu”, são segundo Goffman, “simples racionalizações, criadas por esforços para controlar a vida diária de grande número de pessoas em espaço restrito e com pouco gasto de recursos. Além disso, as mutilações do eu ocorrem nos três tipos, mesmo quando o internado está cooperando e a direção tem interesses ideais pelo seu bem estar.” (Goffman, 2003, p.24).
O sistema de privilégios e os processos de mortificação são as condições a que o internado se tem de adaptar, o mesmo internado poderá empregar diferentes táticas de adaptação nas diferentes fases da sua carreira moral, poderá também alternar entre diferentes tácticas ao mesmo tempo. Essas tácticas representam coerência de comportamentos, mas segundo o autor poucos são os internados que as seguem por muito tempo, preferindo a maioria o caminho designado por “ se virar”. Adoptando uma combinação de ajustamentos secundários, como conversão, colonização, e lealdade ao grupo de internados, de forma a obter a possibilidade máxima de não sofrer física ou psicológicamente.
Nesta obra, Goffman conclui que muitas instituições totais, parecem funcionar apenas como depósito de internados, embora sejam vistas pelo público como organizações racionais, com planeamento e eficazes nos seus objectivos, estaremos assim perante um faz de conta, entre o que parece e o que na verdade é e se faz, este será o contexto básico do trabalho da equipa dirigente sendo certo que encontram diferentes contigências que a instituição tem de enfrentar e que a torna menos ineficiente. É reconhecido que as instituições ficam muitas vezes longe dos seus objectivos oficiais. Em relação à carreira moral, “ Cada carreira moral, e, atrás desta, cada eu, se desenvolvem dentro dos limites de um sistema institucional,(…) Neste sentido o eu não é uma propriedade da pessoa a que é atribuído, mas reside no padrão de controle social que é exercido pela pessoa e por aqueles que a cercam”. (Goffman, 2003, p. 142).
Goffman, para desenvolver a sua análise vai apropriar-se de conceitos introduzidos por Mead: I – O “eu” espontâneo; Me – o “eu” socializado o autor centra-se, fundamentalmente, no “eu” socializado e as interacções do co-presença física, para tal, previlegia a observação “in loco” de modo a analisar os elementos quer físicos quer expressivos. Temos, deste modo, um estudo ao “nível micro”, em que o investigador interage no mesmo espaço onde estão os seus objectos de observação. Isto porque, segundo Goffman, é nestas interacções face a face, que vemos como os indivíduos representam o seu “eu”.
“ No ciclo usual de socialização de adultos, esperamos que a alienação e a mortificação sejam seguidas por um novo conjunto de crenças a respeito do mundo e uma nova maneira de conceber os eus.” (Goffman, 2003, p. 143).
Referências bibliográficas:
GOFFMAN, Erving ( 2003 ) – Manicómios, Prisões e Conventos, Brasil, Editora Perspectivas S.A.
GIDDENS, A. (1984), The constitution of society: outline of the theory of structuration. Berkeley, University of California Press.
GIDDENS, Anthony (2008) – Sociologia. 6ª edição, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. ISBN 978-972-31-1075-3.
FROIS, Catarina. Erving Goffman: desbravador do cotidiano. Anál. Social, jul. 2005, no.175, p.435-438. ISSN 0003-2573.
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domingo, 31 de janeiro de 2010
Vida e Morte no Trabalho: Acidentes do Trabalho e a Produção social do erro
Por: Carlos Machado de Freitas
Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(9):2193-2196, set, 2008
VIDA E MORTE NO TRABALHO: ACIDENTES DO TRABALHO E A PRODUÇÃO SOCIAL DO ERRO.
Dwyer T. São Paulo: Editora da Unicamp/Multiação
Editorial; 407 pp.
ISBN: 85-26807-17
*1. Giddens A. As conseqüências da modernidade.
São Paulo: Editora Unesp; 1990.
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL. Hochman G,
Arretche M, Marques E, organizadores. Rio de
Janeiro: Editora Fiocruz, 2007. 398 pp.
ISBN: 978-85-7541-124-7
Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(9):2193-2196, set, 2008
VIDA E MORTE NO TRABALHO: ACIDENTES DO TRABALHO E A PRODUÇÃO SOCIAL DO ERRO.
Dwyer T. São Paulo: Editora da Unicamp/Multiação
Editorial; 407 pp.
ISBN: 85-26807-17
Para Giddens (*1), em seu livro As Conseqüências da Modernidade (1990), o industrialismo constitui um dos feixes organizacionais de modernidade. Sua principal
característica é constituir uma organização social regularizada que tem como objetivo coordenar atividades humanas, máquinas e aplicações de matérias-primas para a produção de bens. Assim, embora tenha emergido na Europa do século XVII, enquanto feixe organizacional da modernidade suas influências se estenderam no tempo (aplicando-se mesmo aos cenários atuais de alta tecnologia) e no espaço, atingindo não só as diferentes partes do planeta, como se expandindo para além dos locais do trabalho e afetando transportes, comunicações e a vida doméstica, só para citar alguns
exemplos. Historicamente, esse feixe organizacional que ganhou materialidade nas indústrias, com a máquina a vapor, e na busca de fontes de energia, nas minas de
carvão, teve como um de seus custos humanos acidentes e mortes de trabalhadores. Assim, se para a maioria da população os acidentes decorrentes da industrialização eram e ainda são uma preocupação distante, para uma minoria estes foram e ainda são uma realidade cotidiana.
Tom Dwyer em seu livro Vida e Morte no Trabalho
– Acidentes do Trabalho e a Produção Social do Erro
(2006) não nos permite esquecer isso.
Quinze anos após a primeira publicação em inglês do livro Life and Death at Work – Industrial Accidents as a Case of Socially Produced Error, finalmente o leitor brasileiro foi presenteado com a publicação da tradução desta obra de referência para todos aqueles que estudam a origem e as causas dos acidentes industriais que têm como principais vítimas os trabalhadores. Em um esforço de construção de uma sociologia dos acidentes de trabalho, este é um importante livro para todos os que se dedicam às questões relacionadas à saúde e à segurança dos trabalhadores (profissionais como ergonomistas, engenheiros, psicólogos, médicos, sindicalistas e pesquisadores, por exemplo).
Inicialmente, o autor nos remete ao processo histórico em que o emprego de novas tecnologias no processo de produção industrial e de seus acidentes já surgia como um problema público, provocando intervenções técnicas, bem como uma incipiente e limitada legislação com o objetivo de controlar e prevenir
acidentes industriais. Demonstra como, por meio das intervenções técnicas e das políticas de compensações para os acidentes, principalmente no período entre o
fim da I Guerra Mundial e os anos 60 do século XX, consolida-se um processo iniciado no século XIX, ou seja, a retirada da esfera pública da visibilidade dos acidentes e da miséria de suas vítimas. A partir daí, Tom Dwyer constrói sua teoria dos acidentes
industriais enquanto erros produzidos socialmente, conceituando que as relações entre os trabalhadores em seus ambientes de trabalho são gerenciadas por meio de relações sociais de trabalho, que, nas indústrias, podem ser identificadas em quatro níveis.
O primeiro é o nível de recompensa, que envolve
dos incentivos financeiros aos simbólicos que premiam
a ampliação do trabalho que ocorre muitas vezes
em detrimento das condições de segurança.
O segundo nível é o de comando, que envolve o autoritarismo e as restrições da autonomia dos trabalhadores, com implicações sobre os grupos de trabalhos,
ocasionando a desintegração dos mesmos e, por conseguinte, dos conhecimentos e capacidades de resistência coletiva. Neste nível encontra-se também o que o autor denomina de servidão voluntária, em que trabalhadores consideram normal o trabalho em ambientes insalubres, preferindo estar em harmonia com os objetivos do empregador ao invés de confrontá-lo.
O terceiro é o organizacional, envolvendo a baixa qualificação dos trabalhadores, a rotina com empobrecimento do conteúdo do trabalho e a desorganização da indústria expressa na dissociação entre manutenção e operação, na busca de atalhos perigosos no processo produtivo para manter os níveis de produção, nos erros imprevistos dos sistemas complexos com processos altamente interligados.
O quarto nível é o do indivíduo e sua autonomia. Neste o trabalhador não é totalmente organizado, comandado e nem recompensado, de modo que os empregadores não governam e controlam suas conseqüências. Assim, ainda que integrando uma organização e afetado e influenciado pelas relações sociais dentro da mesma, o trabalhador detém certo grau de autonomia, sobre a qual as empresas procuram desenvolver técnicas de administração (seleção, disciplina, rotina
de trabalho etc.) de modo a restringi-la.
Tem como base um amplo levantamento bibliográfico dos estudos sobre acidentes e a teoria social, uma robusta formulação teórica e conceitual e um amplo trabalho empírico sobre o trabalho em turno e acidentes de três fábricas, em que procura testar sua teoria dos acidentes industriais em cada um dos níveis propostos.
Esses elementos permitem que no último capítulo, denominado “reajustando o prisma”, Tom Dwyer utilize os exemplos dos acidentes industriais ampliados ocorridos nos anos 70 e 80 como desencadeadores de um processo de crise e renovação das intervenções de profissionais e de governos nos países industrializados. Tom Dwyer nos oferece não só o prazer de ler um trabalho científico muito bem construído, mas também uma série de insights para se refletir e investigar sobre muitas questões relacionadas aos acidentes de trabalho e industriais. Chamamos a atenção para duas.
A primeira é a invisibilidade dos acidentes de trabalho, cuja face mais conhecida para a Saúde Pública no Brasil é o ainda elevado nível de subnotificações destes
eventos.
A segunda, que se relaciona à primeira, é sobre os mecanismos sociais que contribuem para que ainda perdure no país a culpabilização das vítimas pelas
causas dos acidentes que afetam ou interrompem suas vidas.
Tornar os acidentes invisíveis e culpar as vítimas dos mesmos quando se tornam visíveis são processos que se encontram relacionados no papel que o Brasil ocupa dentro do industrialismo como uma das dimensões da globalização. Como observa Giddens , a expansão da divisão global do trabalho é um dos aspectos do industrialismo enquanto feixe organizacional da modernidade, e que inclui diferenciações tanto
entre áreas mais e menos industrializadas do mundo no mundo, como no que se refere à especialização regional
em termos de tipo de indústria, capacitações e a produção de matérias-primas. É esta divisão do trabalho, que resulta em uma subseqüente divisão global
dos riscos e dos custos humanos, que permite que o Brasil ainda não tenha vivido uma crise de renovação das intervenções de profissionais e de governos, pois se a tivesse, não teríamos mais a possibilidade de subnotificações e também da culpabilização das vítimas. Em relação a essa segunda questão, basta lembrarmos como em todas as vezes que ocorre um acidente industrial, nos transportes (aviões e trens, por exemplo) ou na busca de fontes de energias (plataformas de petróleo, por exemplo), antes mesmo de investigar suas causas, profissionais e governos se apressam em culpar os trabalhadores, procurando assim reafirmar que o industrialismo, enquanto organização social, vai bem e continuará operando de modo seguro. Perigosos são os trabalhadores.
Se este é o quadro atual, não podemos deixar de ter a esperança que Tom Dwyer deposita no seu último
capítulo:
“...a esperança de que os atores sociais e as relações
sociais concretas passarão a ser considerados de
maneira mais ampla como responsáveis pela produção
de acidentes...” (p. 28).
Essa esperança não só transformaria os acidentes em eventos capazes de resultar em um aprendizado social, mas também em medidas de controle e prevenção mais contextualizadas e efetivas.
*1. Giddens A. As conseqüências da modernidade.
São Paulo: Editora Unesp; 1990.
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL. Hochman G,
Arretche M, Marques E, organizadores. Rio de
Janeiro: Editora Fiocruz, 2007. 398 pp.
ISBN: 978-85-7541-124-7
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Conferência Internacional sobre Redes Sociais
Promovida por pessoas conectadas à Escola-de-Redes, uma rede de mais de 3 mil pessoas coligadas para estudar, investigar e experimentar redes sociais e desenvolver novas tecnologias de netweaving (articulação e animação de redes), ocorrerá em Curitiba, entre os dias 11 e 13 de março de 2010, a Conferência Internacional sobre Redes Sociais (a sigla é CIRS).
Três grandes palestras, em auditório com capacidade para mais de 1 mil pessoas, constituirão o ponto alto do encontro:
A primeira, O Poder de Organizar sem Organização será ministrada por Clay Shirky, palestrante internacional com grande projeção no momento. Shirky (Nova York) é escritor (seu último livro, ainda inédito no Brasil, tem como subtítulo o tema da palestra), professor de Efeitos Econômicos e Sociais das Tecnologias da Internet e de New Media na New York University.
A segunda, Redes sociais e emergência, será proferida por Steven Johnson (também de Nova York), outro palestrante de renome internacional, autor de 6 best-sellers sobre intersecção entre ciências, tecnologia e experiências pessoais. Seus livros têm influenciado desde a forma de campanhas políticas utilizarem a internet até as idéias mais inovadoras de planejamento urbano, passando pela batalha contra o terrorismo do século 21.
A terceira palestra, O futuro da investigação sobre redes sociais, será ministrada por Pierre Lévy (Ontário), filósofo, escritor e professor do Departamento de Comunicação na Universidade de Ottawa, Canadá e da Universidade Paris VIII. Lévy estuda o conceito de inteligência coletiva e sociedades baseadas no conhecimento. É um pensador mundialmente reconhecido no campo da cibercultura.
Haverá ainda uma discussão, desafiadora e polêmica, sobre a nova educação na sociedade em rede, intitulada Sistemas Sócio-Educativos: Comunidades de Aprendizagem em Rede (Arranjos Educativos Locais). Nessa atividade deverão ser questionados pela raiz não apenas os métodos de ensino ainda utilizados, mas o próprio conceito de educação como ensino, a instituição chamada escola e o papel (anacrônico) do professor. A grande estrela aqui será José Pacheco (Portugal), educador, escritor, mestre em Ciência da Educação. Ele foi o idealizador e coordenador da famosa Escola da Ponte, projeto educativo baseado na autonomia dos estudantes.
O evento também abrigará dois minicursos. O primeiro, Netweaving (Articulação e Animação de Redes), será ministrado por Augusto de Franco (São Paulo), netweaver da Escola-de-Redes e autor de mais de vinte livros sobre desenvolvimento local, capital social, redes sociais e democracia. O segundo minicurso, Introdução à Análise de Redes Sociais, será ministrado por Clara Pelaez Alvarez, analista de sistemas pela PUC de São Paulo, CEO da Neuroredes, empresa brasileira de consultoria em gerenciamento e especialista em Neurometria: mapeamento, desenho e análise de redes de conhecimento.
Para os promotores da Conferência o mais importante, porém, é o Simpósio da Escola de Redes, que ocorrerá nos dois primeiros dias do encontro: uma espécie de Open Space (ou “Desconferência”) onde os membros conectados à Escola-de-Redes vão, eles mesmos, definir a pauta e as atividades que serão desenvolvidas. Mais uma vez aqui a CIRS inova, seguindo a orientação – que tudo indica será predominante nos tempos que chegam – de organizar sem organização.
Uma característica inovadora da CIRS é o seu processo de realização: o evento está sendo divulgado e organizado de modo distribuído. Ou seja, cada pessoa que quiser colaborar pode divulgar o evento como se fosse seu: pode inventar uma marca, fazer e distribuir um folheto ou um cartaz, criar um banner para publicar no seu site, blog ou plataforma de rede na Internet – tudo isso sem a necessidade de pedir autorização, receber orientação e sem precisar entrar em contato com alguém. Patrocinadores ou apoiadores podem colocar a sua marca comercial nas peças publicitárias que veicularem, também sem qualquer necessidade de entendimento prévio. Em suma, como diz o tema da palestra de Clay Shirky, uma das mega-estrelas do evento, a CIRS está testando o poder de organizar sem organização.
Para quem já investiga, estuda ou trabalha com o assunto ou para quem quiser ficar atualizado com o tema, a Conferência Internacional sobre Redes Sociais é uma oportunidade imperdível.
Serviço
Inscrições e mais informações na plataforma interativa da Escola-de-Redes:
A CIRS – Conferência Internacional sobre Redes Sociais será realizada de 11-13 de março de 2010, no CIETEP (no Centro de Convenções da FIEP - Federação das Indústrias do Estado do Paraná): Avenida Comendador Franco 1341, Jardim Botânico, Curitiba, Paraná, Brasil.
A CIRS, embora organizada autonomamente, compõe a constelação de atividades aninhadas na Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CI-CI 2010): CIETEP, Curitiba 10-13 de março de 2010. Para mais informações sobre a CI-CI 2010 clique no link: http://www.cici2010.org.br/
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
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