sábado, 14 de abril de 2012

Acção colectiva europeia contra o MEE (Mecanismo Europeu de Estabilidade)

 In A Voz do Povo
 Tradução para Português de http://resistir.info/
 Original em :courtfool.info




Acção colectiva europeia contra o MEE ( Mecanismo Europeu de Estabilidade)
O Tratado de Estabilidade Europeia foi assinado a 2 de Fevereiro de 2012 e Bruxelas deseja que ele entre em vigor a 1 de Julho de 2012. Entretanto, antes disso os Parlamentos e os Senados dos 17 países da zona euro devem ratificar este perigoso tratado. Os procedimentos para isso já começaram!
O MEE ( Mecanismo Europeu de Estabilidade ) resumido muito brevemente:

O MEE aparenta ser um fundo de emergência. Trata-se de um fundo permanente, destinado a substituir o FESF e o MESF estabelecidos em 2010. Dotado de um capital de 700 mil milhões de euros (ver repartição das acções na parte de baixo desta página) dos quais 80 no arranque, o MEE pode decidir de modo autónomo o momento do pedido de fundos e aumentar seu capital de modo ilimitado em detrimento da União Europeia e dos contribuintes. O MEE dita. Ele é o nosso novo ditador. O MEE age sem nenhum controle democrático, desfruta de imunidade completa e decide de maneira autónoma os empréstimos que concede e o dinheiro que gasta.

O seu objectivo oficial é ajudar os países que têm dificuldades financeiras. De facto, ele sobrecarrega com ainda mais dívidas os países já endividados. Os empréstimos destes fundos de emergência são concedidos com condições que põem os países sob tutela, substituindo dirigentes democraticamente eleitos por banqueiros, o que limita o poder dos parlamentos, o que implica cortes nas administrações públicas e a imposição de medidas de austeridade que provocaram deliberadamente uma grave crise económica e um desemprego maciço. É a doutrina de choque, tal como a descreve Naomi Klein.



Para travar o MEE ( Mecanismo Europeu de Estabilidade ) todos os europeus têm interesse em que este tratado obtenha o menor número de ratificações possível. Todos os europeus deveriam escrever uma carta a cada um dos parlamentares que votam este tratado de traição. É exactamente isso o que pode fazer assinando a carta abaixo. (Se toda a gente der uma pequena ajuda para encontrar os endereços e dados necessários, prometo enviar estas cartas assinadas por europeus que são contra o MEE).
Carta a todos os parlamentares
Senhor Deputado (ou Senhora Deputada):

Sob a avalanche das informações acerca do MEE houve uma informação essencial que vos foi ocultada.

O euro tem um problema insolúvel. Não é preciso ser perito para compreender. Basta um minuto de reflexão.

Nada impede os consumidores dos países de produtividade fraca de preferirem produtores melhores e mais baratos dos países com produtividade mais forte. Isso implica um fluxo permanente de euros dos países fracos para os países fortes. Segue-se que aos países fracos faltam euros permanentemente e devem tomar emprestado sempre mais para poderem dispor de euros.

(Antes do euro, estes países podiam desvalorizar a sua moeda de modo a tornar mais caros para os seus habitantes os produtos de importação e tornar os produtos de exportação mais baratos para os compradores estrangeiros. Isso travava as importações, aumentava as exportações e restabelecia a produtividade do país).

Na zona euro há diferenças de produtividade muitos grandes, causadas pelas diferenças de clima, de fertilidade do solo, de água doce disponível, das distâncias a percorrer, das dificuldades de transporte, da presença ou não de fontes de energia, etc. Estas condições determinam em grande medida o fracasso ou o êxito de actividades económicas. A Grécia, Itália, Espanha, Portugal nunca se assemelharão à Alemanha.

Além disso, o Banco Central Europeu não dispõe senão de uma única taxa de juro para 17 economias diferentes. Uma mudança desta taxa, de que sempre se afirmou ser importante para influenciar a economia, não pode senão beneficiar certos países, ao passo que os outros deverão sofrer as consequências. Monetariamente esta zona não é administrável.

O MEE e os tratados associados são lutas contra os sintomas dos desequilíbrios na zona euro. Nenhuma das medidas poderá anular as diferenças que causam estes desequilíbrios. Introduzir uma moeda única numa zona economicamente tão heterogénea foi um erro.

Por favor, não cometa o erro ainda mais grave de mergulhar a Europa numa crise estilo 1930. Esta foi, também causada por políticos convencidos do seu pretenso saber. Poderá repetir este erro ou votar contra o MEE.

Como não houve referendo sobre a transferência dos poderes para Bruxelas, nem debates públicos sobre o fundo do problema, a vossa responsabilidade pessoal é enorme. Estamos conscientes das pressões de toda parte exercidas sobre si.

Temos a intenção de tornar público o voto de cada deputado, para que os eleitores possam levar em conta nas próximas legislativas.

Respeitosas saudações,






Para assinar a Petição preencha e clique:


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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Os movimentos sociais e os processos revolucionários na América Latina: Uma crítica aos Pós-modernistas

Prof. Dr. Edmilson Costa
Por: Edmilson Costa


Os anos 90 do século passado e os primeiros dez anos deste século foram marcados por intenso debate entre as forças de esquerda sobre o papel dos movimentos sociais, das minorias, das lutas de gênero e das vanguardas políticas nos processos de transformação econômica, social e política da sociedade. Colocou-se na ordem do dia a discussão sobre novas palavras de ordem, novos agentes políticos e sociais, novas formas de luta, novas concepções sobre a ação prática política.

Esses temas e concepções ocuparam o vazio político nesse período em funções de uma série de fenômenos que ocorreram na década de 80 e 90, como a queda do Muro de Berlim, o colapso da União Soviética e dos países do Leste Europeu, o refluxo do movimento sindical, a redução das lutas operárias nos principais centros capitalistas, a perda de protagonismo dos partidos revolucionários, especialmente dos comunistas, além da ofensiva da ideologia neoliberal em todas as partes do mundo, sob o comando das forças mais reacionárias do capital.

A conjuntura de derrota das forças progressistas favoreceu todo tipo modismo teórico e fetiche ideológico. Sob diversos pretextos, certas forças políticas, inclusive alguns companheiros de esquerda, começaram a questionar a centralidade do trabalho na vida social, o papel dos partidos políticos como vanguarda dos processos de transformações sociais e políticas, a atualidade da luta de classes como instrumento de mudança da história e o próprio socialismo-comunismo como processo que leva à emancipação humana.

Esse movimento teórico e político envolveu forças difusas, mas influentes junto à juventude e vários movimentos sociais. O objetivo era desconstruir o discurso dos partidos políticos revolucionários, do movimento sindical e do próprio marxismo, como síntese teórica da revolução. Para estas forças, os discursos de temas abrangentes, como a igualdade, o socialismo, a emancipação humana, os valores históricos do proletariado, as soluções coletivas contra a opressão humana, eram coisa do passado e produto de um mundo que já existia mais.

No lugar desses velhos temas, tornava-se necessário colocar um novo discurso, como forma de forma reconhecer a fragmentação da realidade e do conhecimento, a constatação da diferença, a emergências de novos sujeitos sociais, com características, valores e reivindicações específicas, como os movimentos sociais, de gênero, raça, etnia, etc, e novas formas de formas de luta, inclusive com renúncia à tomada do poder.

O condensamento desse ecletismo conservador, dessa matriz teórica diluidora, pode ser expresso no que se convencionou chamar de pós-modernismo. Essa é a fonte teórica inspiradora de todos os modismos teóricos e fetiches que se tornou moda as duas últimas décadas. Quais são os principais supostos teóricos dos pós-modernistas, que tanta influência tiveram nesses anos de vazio político? Vamos nos ater a três vertentes fundamentais que norteiam os fundamentos dessa corrente teórica.

1) O fim da centralidade do trabalho. Um dos temas mais destacados pelos pós-modernistas é o fato de que as tecnologias da informação, a reestruturação produtiva e a inserção acelerada de ciência no processo produtivo tornaram obsoleto o conceito de classe operária e proletariado, até mesmo porque esses atores estão se tornando residuais num mundo globalizado onde impera a robótica, a internet e a informática avançada. Alguns desses teóricos chegaram a dar adeus ao proletariado, que seria um conceito típico da segunda revolução industrial. Prova disso, seria a constatação de que a classe operária está diminuindo em todo o mundo e, por isso mesmo, perdeu o protagonismo para outros movimentos emergentes no capitalismo globalizado.

Os teóricos pós-modernistas se comportam como o caçador que vê apenas as árvores mas não consegue enxergar a floresta. Olham o mundo a partir de uma perspectiva da Europa ou Estados Unidos. Por isso, não conseguem compreender que o capital possui uma extraordinária mobilidade, em função da busca permanente por valorização. Por isso, são incapazes de perceber que o proletariado está crescendo de maneira expressiva em termos mundiais, com o deslocamento de milhares de indústrias dos EUA e da Europa para a Ásia, processo que está incorporando ao mundo do trabalho centenas de milhões de trabalhadores na China, na Índia e em toda a Ásia, num movimento que está mudando a conjuntura mundial.

Não conseguem entender que o próprio capitalismo é uma contradição em processo, pois quanto mais se moderniza, quanto mais insere ciência na produção, mais amplia sua composição orgânica e, consequentemente, mais pressiona as taxas de lucro para baixo. Por isso, o capitalismo não pode existir sem seu contraponto, o proletariado. Se o capitalismo automatizasse todas suas fábricas o sistema entraria em colapso, pois os robôs são até mais disciplinados que os seres humanos, são capazes de trabalhar sem descanso, não reivindicam salário, nem fazem greve, mas também tem seu calcanhar de Aquiles: não consomem. Se não têm consumidores, os capitalistas não têm para quem vender suas mercadorias. Ou seja, antes de uma automatização total, o sistema entraria em colapso em função de suas próprias contradições.

2) O fim da centralidade da luta de classes. Outro dos argumentos dos teóricos pós-modernos é a alegação de que a luta de classes é coisa do passado. Afinal, dizem, se o proletariado está se reduzindo aceleradamente, não existe mais identidade de classe e, portanto, não teria sentido se falar em luta de classes. Nessa perspectiva, dizem, a reestruturação produtiva pode ser considerada uma espécie de dobre de finados que veio sepultar os velhos agentes do passado, como o movimento sindical. Prova disso, é que os sindicatos perderam o protagonismo e agora agonizam em todo o mundo. E o principal representante teórico do mundo do trabalho, o marxismo, também estaria ultrapassado, em função de sua visão monolítica do mundo.

Novamente, os teóricos pós-modernistas também não compreendem a história e confundem sua submissão ideológica à ordem capitalista com a realidade dos trabalhadores. A luta de classes sempre existiu desde que as classes se constituíram na humanidade e continuará sua trajetória enquanto existir a exploração de um ser humano por outro. Não porque os marxistas querem, mas porque a realidade a impõe. Nos tempos de refluxo as lutas sociais diminuem, parece que os trabalhadores estão passivos e os capitalistas imaginam que conseguiram disciplinar para sempre os trabalhadores.

Nessa conjuntura, o discurso do fim da luta de classe, da passividade dos trabalhadores, chega a influenciar muita gente, afinal, quem não tem uma perspectiva histórica do mundo se atém apenas à superfície dos fenômenos, à aparência das coisas. Mas nos momentos de crise do capitalismo, esse discurso se torna inteiramente inadequado, entra em choque com a realidade, uma vez que a crise coloca a luta de classes naordem do dia com uma atualidade extraordinária, para desespero daqueles que imaginavam o seu fim.

Se observarmos a realidade atual, onde o sistema capitalismo enfrenta sua maior crise desde a Grande Depressão, poderemos facilmente constatar e emergência da luta de classes em praticamente todas as partes do mundo. É só observar as insurreições no Oriente Médio, na África, as lutas na América Latina, as greves e mobilizações na Europa. Além disso, a crise também tornou o marxismo mais atual do que nunca. Mesmo os capitalistas estão lendo O Capital para tentar entender o que está ocorrendo no mundo.

3) As vanguardas políticas não têm mais nenhum papel a desempenhar no mundo globalizado. O terceiro dos argumentos-chave dos teóricos pós-modernistas é o fato de os partidos revolucionários, especialmente os comunistas, não terem mais nenhum papel a desempenhar no mundo atual. A ação política agora deve ser comandada pelos movimentos sociais, pelos movimentos de gênero, minorias étnicas, de raças, sexuais, etc, que são vítimas de “opressões específicas”. Isso porque os partidos seriam organizações autoproclamatórias, autoritárias, portadoras de um fetiche autorealizável, que é a revolução socialista.Essas instituições, portadoras de um discurso utópico de emancipação humana, estão também definhando em todo o mundo porque não estariam entendendo a realidade do mundo globalizado.

Mais uma vez os teóricos pós-modernistas não conseguem compreender a totalidade da vida social. Por isso, vêem o mundo sem unidade, fragmentado e disperso. Não entendem que, por trás da “opressãoespecífica” que atinge os movimentos sociais e de gênero, etnia, raça, sexual, está o grande capital apropriando a mais-valia de todos, independentemente de raça, sexo ou orientação religiosa . Não compreendem que os movimentos, por sua própria natureza, têm limites institucionais e de representatividade.

Um sindicato, por mais combativo que seja, deve representar os interesses dos trabalhadores que representa. Da mesma forma que uma entidade estudantil, uma organização de moradores, de mulheres ou de homosexuais tem como objetivo defender os interesses específicos de seus representados, atuam nos limites institucionais da ordem burguesa. Somente o partido político revolucionário, que se propõe a derrotar a ordem capitalista e que junta em suas fileiras todos esses segmentos sociais, possui condições para entender a totalidade da luta política e lançar propostas globais para a transformação da sociedade.

A prática das lutas sociais

Se observarmos as lutas sociais que foram realizadas nos últimos anos, poderemos constatar facilmente que grande parte delas foram derrotadas exatamente porque não existiam vanguardas com capacidade de conduzir e orientar essas lutas para a radicalidade da luta de classes e a emancipação do proletariado. Não se trata aqui de negar a importância das lutas específicas ou dos movimentos sociais. Pelo contrário, são fundamentais para qualquer processo de mudança, servem também como aprendizado da luta dos trabalhadores, mas deixadas por si mesmas, apenas com seu conteúdo espontaneísta, não tem condições de realizaras transformações da sociedade e terminam se esvaziando e sendo derrotadas pelo capital.

O teatro de operações é mais ou menos o seguinte: após um momento de euforia e mobilização os movimentos sociais são capazes de realizar proezas impressionantes, como desacreditar a velha ordem, desafiar as classes dominantes, mas num segundo momento a euforia se esgota em si mesma sem atingir os objetivos por falta de perspectivas. A América Latina é um importante posto de observação para constatarmos essa hipótese, mas também em várias partes do mundo os exemplos são férteis para verificarmos a necessidades de vanguardas políticas.

A Bolívia, por exemplo, foi palco de várias insurreições populares contra governos neoliberais. As massas se sublevaram, foram às ruas aos milhões, derrubaram os governos conservadores, mas o máximo que conseguiram foi eleger um presidente progressista que é fustigado a todo momento pelo capital e não consegue realizar plenamente nem o próprio programa a que se propôs no período das eleições.

No Equador, ocorreram também várias insurreições populares. Em uma delas, os movimentos conquistaram o poder e o entregaram a um militar que depois os traiu e agora é um personagem conservador na política do País. Posteriormente, no bojo de outra insurreição, conseguiram eleger um presidente progressista, mas este não consegue implementar um programa transformador porque o capital não lhe dá trégua. Recentemente quase foi deposto por um setor militar sublevado.

Na Argentina, em função da crise econômica herdada do governo neoliberal de Menem, as massas também se sublevaram aos milhões em várias regiões do País. Em um período curto o País mudou três vezes de presidente. O resultado da sublevação popular foi a eleição de Nestor Kirchner e, posteriormente, de sua companheira, Cristina Kirchner. Nesses anos de poder, os Kirchner também não realizaram nenhuma mudança de fundo. O capitalismo seguiu seu curso como se nada tivesse acontecido.

Mais recentemente, duas grandes insurreições populares derrubaram os governos conservadores da Tunísia, do Egito e do Iêmen. Milhares de pessoas se sublevaram durante vários dias, centenas de pessoas morreram, os ditadores deixaram o poder, mas os movimentos sociais, sem vanguarda política, não conseguiram seus objetivos. Setores da burguesia local encabeçaram a formação de novos governos e os trabalhadores mais uma vez deixaram escapar de suas mãos a revolução.

No Brasil, um grande movimento social, o Movimento dos Sem Terra (MST) enfrentou com bravura os governos neoliberais, tendo como norte a bandeira da reforma agrária. Organizou um movimento original e de massas, com base social em todo o País, especialmente entre a população mais pobre da cidade e do campo. O MST ocupou fazendas dos latifundiários, realizou formação de grande parte dos seus quadros e até mesmo conseguiu construir uma universidade popular para formação permanente dos seus militantes.

No entanto, o desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro e a emergência do agronegócio criaram uma nova conjuntura no campo brasileiro, onde as relações de produção passaram a se dar predominantemente entre capital e trabalho. Essa conjuntura, aliada ao programa de compensação social do governo Lula, o “Bolsas Família”, uma programa de transferência de rendimento para a população mais pobre, levou o MST a uma encruzilhada.

Ou seja, a realidade mudou radialmente no campo brasileiro, mas a razão de ser do MST era a reforma agrária. Por isso, o movimento, que se tornara um dos símbolos de luta contra o neoliberalismo e, por isso mesmo obteve simpatia mundial, agora está perdendo protagonismo. Os acampamentos do MST foram reduzidos para menos da metade e o movimento vive grandes dificuldades estratégicas. Afinal, se a maioria dos trabalhadores está nas cidades, se o capitalismo hegemonizou as relações de produção no campo e subordinou a pequena agricultura à lógica do capital, torna-se difícil a sobrevivência no longo prazo de um movimento que tem apenas a bandeira da reforma agrária como luta estratégica.

A condensação mais expressiva da teoria movimentista foi o Fórum Social Mundial (FSM). Por ocasião do primeiro FSM, em Porto Alegre, parecia que todos tinham encontrado a fórmula ideal, a varinha mágica, para as novas lutas sociais. Milhares de lutadores de todo o mundo convergiram para o Rio Grande do Sul para se fazer presentes no lançamento da nova grife da luta mundial autônoma. Foi um sucesso extraordinário e um contraponto ao Foro de Davos, onde os capitalistas tramavam novas estratégias para dominação do mundo.

O sucesso de público e de mídia do FSM parecia ter enterrado de vez a noção de vanguarda política. Agora seriam os movimentos sociais, os movimentos de gênero, etnia, das mulheres, os movimentos sociais que doravante comandariam as lutas no mundo. Adeus partidos políticos, adeus movimento sindical, adeus velhos atores sociais da segunda revolução industrial. Agora eram os movimentos difusos, sem centralidade política, inteiramente autônomos, livres de dogmas e ideologias ultrapassadas que iriam provar ao mundo a nova realidade da luta social e política.

Muita gente sinceramente acreditou que o FSM poderia ser a fórmula mágica, o contraponto contemporâneo ao capital, o substituto das velhas vanguardas políticas e seu discurso autoproclamatório. Mas a realidade aos poucos foi colocando no devido lugar o modismo movimentista. Com o tempo, o FSM foi perdendo fôlego, foi se esvaziando, até o ponto em que hoje ninguém mais acredita que possa ser alternativa a coisa nenhuma. Mas uma vez a vida provou que os movimentos por si só não têm condições de mudar a sociedade, é necessário a vanguarda política para conduzir os processos de transformação.

O significado do pós-modernismo e as lutas sociais

Em outras palavras, a ideologia pós-modernista é responsável por grande parte das derrotas dos movimentos sociais nestas duas décadas, não só porque esse modismo teórico influenciou parte da juventude e lideranças dos movimentos sociais, como também porque levou à frustração milhares de lutadores sociais. Isso porque as lutas fragmentadas geralmente se desenvolvem de maneira espontânea. No início tem uma trajetória de ascenso, empolga milhares de pessoas, mas logo depois o movimento vai enfraquecendo até ser absorvido pelo sistema.

Em outras palavras, o pós-modernismo é o fetiche ideológico típico dos tempos de neoliberalismo e representa a ideologia pequeno-burguesa da submissão sofisticada à ordem do capital. Mas essa ideologia carrega consigo uma contradição insolúvel: no momento em que o capital mais se globaliza, com a internacionalização da produção e das finanças, é justamente neste momento que os pós-modernos pregam a fragmentação da realidade, a setorização das lutas sociais, a especificidade dos combates de gênero, etnia, raça, sexo, etc. Só mesmo quem não quer mudar a ordem capitalista pensa desse jeito.

Na verdade, todos que seguem esse ritual teórico, de maneira direta ou indireta, estão abrindo mão de um projeto emancipatório e escondem sua impotência mediante um discurso cheio de abstrações sociológicas, mas muito conveniente para o capital. Por isso, combatem as lutas gerais, para fragmentá-las em lutas específicas, que não afrontam abertamente o sistema dominante.Trata-se do varejo da política fantasiado de moderno.

Esses setores cumpriram, nos últimos 20 anos e ainda cumprem até hoje, um papel muito especial na luta ideológica atual: eles são a mão esquerda do social-liberalismo capitalista. Influenciam as gerações mais jovens, desenvolvem um discurso com aparência de modernidade, influem na organização das lutas sociais. Com seu discurso eclético e fatalista, cheio de senso comum, desorientam setores importantes da sociedade no que se refere à ação política e, na prática, ajudam a organizar, mesmo que indiretamente, a submissão de vários setores sociais à ordem capitalista e aos valores do mercado.

Essas duas décadas de experiências fragmentadas nos levam à conclusão de que, mais do que nunca, as vanguardas revolucionárias têm um papel fundamental no processo de transformações sociais. São elas exatamente que podem conduzir e orientar os vários movimentos sociais com uma plataforma estratégica de emancipação da humanidade, o que significa derrotar o imperialismo e o capitalismo e transitar para a construção da sociedade socialista.


O autor: Edmilson Costa é Doutorado em Economia pela Unicamp, com pós-doutoramento na mesma instituição. É autor, entre outros, de A globalização e o capitalismo contemporâneo e A política salarial no Brasil. Professor universitário, é membro da Comissão Política do Comite Central do Partido Comunista Brasileiro.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A Crise da Esquerda Europeia - Livro de Alfredo Barroso

Alfredo Barroso, lança livro contra o unanimismo e pelo debate à esquerda                           
Por: São José Almeida

Alfredo Barroso
Alfredo Barroso está "convencido de que, se não houver discussão à esquerda, a situação de bloqueio não avança", pois "o PS está parado, não debate e deixa-se ficar preso a compromissos". Por isso, este publicista e antigo chefe da Casa Civil do Presidente da República Mário Soares decidiu responder ao desafio que lhe foi lançado por Fernando Rosas e por Manuel Alegre e desenvolver em ensaio as reflexões que tinha divulgado em textos de opinião no jornal i.

O resultado é A Crise da Esquerda Europeia, editado pela D. Quixote, um livro que, segundo o autor, "procura romper com o pensamento único que o neoliberalismo instituiu há muito" e quer contribuir para abrir espaço a "um pensamento que seja livre dos interesses financeiros e dos poderes". O ensaísta critica assim a situação de falta de pluralidade que existe em Portugal e afirma que "nas televisões, por exemplo, aparecem sempre os mesmos economistas a sustentar e a justificar as políticas de austeridade". Um clima para o qual Alfredo Barroso não poupa as responsabilidades do PS: "O PS instalou-se no rotativismo, cedeu às sereias do blairismo, entrou na zona de conforto e aceitou a ideologia do dinheiro que nos domina." (...)

O autor, Alfredo Barroso nasceu em Roma (Itália) em 21 de Janeiro de 1945. É licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa(1968). Participou activamente nas lutas estudantis e desempenhou vários cargos dirigentes nas Associações de Estudantes (1962-1968). Foi colaborador da revista O Tempo e o Modo – 1ª Série (1968-1969). É jornalista profissional. Foi redactor dos jornais A Capital (1969-1973) e O Século (1973- -1974). Aderiu à Acção Socialista Portuguesa (1969), foi membro da Comissão Coordenadora da CEUD (1969) e é membro fundador do Partido Socialista (1973). Foi Director dos Serviços de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros (1974-1976) e Secretário-Geral da Presidência do Conselho de Ministros (1976-1979). Era Assessor Principal do quadro da PCM quando se aposentou (2003). Foi Deputado do PS à Assembleia da República (1980-1986), Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros do IX Governo Constitucional (1983-1985), Chefe da Casa Civil do Presidente da República (1986-1996) e membro do Conselho de Administração da Fundação de São Carlos (1996-1998).
Publicou vários livros em que reuniu textos políticos, crónicas, diários, ensaios e retratos, designadamente: Portugal, a Democracia Difícil (Decibel, 1975); O Bruxo de Ceide – Breviário Camiliano (Quetzal, 1992); Janela Indiscreta (Quetzal, 1994); A Televisão Que Temos (Contexto, 1995); Contra a Regionalização (Gradiva, 1998); O Futebol Visto do Sofá – do Mundial de 1994 ao Mundial de 2002 (Quetzal, 2002).
Tem artigos e crónicas de diversa natureza publicados, ao longo de 40 anos, em mais de duas dezenas de jornais e revistas. Nos últimos 15 anos, foi cronista (colunista) do Diário de Notícias (1991-1997), do semanário O Independente (1994-1996), do diário desportivo Record (1998-2000) e do semanário Expresso (1996-2004). Mantém, desde 2002, uma crónica semanal sobre Desporto no Diário de Notícias.

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